2013-05-15

WW2 e bruxas.

Normalmente, WW2 e bruxas na mesma frase só por lapso.
Nas não! É claro que nunca ninguém espera a inquisição espanhola e as suas bruxas, mas o título deste post tem razão de ser.

Apresento o Focke-Wulf FW 190
Atingindo 650 km/h a 6000m de altitude, 800km de raio de alcance, foi o caça alemão de eleição durante o conflito. Superior durante grande parte do conflito às variantes soviéticas, francesas e britânicas.

Apresento o Polikarpov Po-2
Com uma sofrível velocidade de 110km/h, feito de madeira, esta relíquia da década de 20 parece estar deslocada no superconflicto que foi a ww2.




Mas aqui entram as bruxas. 
Ao contrário de muitos dos exércitos da época, os Soviéticos eram muito práticos quando à igualdade dos sexos:
Consegue pegar numa arma? Bem vinda ao exército Vermelho!

Foi assim que mulheres como Natalya Meklin criaram as Bruxas da noite (bom, na verdade criaram o 588º regimento de bombardeiros nocturnos, o nome de bruxas da noite foi dado pelos alemães, mas adiante)

O 588º pilotava exclusivamente Polikarpov's em missões nocturnas de alto risco.
O avião era low tech? Era.
O avião era um pedaço de lenha com asas? Era.
O que fizeram então com este avião que lhes mereceu a alcunha?

A vida de um soldado de infantaria na frente de batalha não era fácil. Nervos em franja grande parte do dia, era de noite que se tentava umas horas de reposo. No início do conflito, os soldados alemãs ainda faziam fogueiras à noite para se manterem quentes e mais confortáveis... mas então começaram a vir as bruxas:

Usando o Polikarpov, voando quase rente ao chão e a baixa velocidade. Quando se aproximavam da frente, desligavam o motor e simplesmente deslizavam pelo ar, sem qualquer ruído aerodinâmico (madeira, lembram-se?) nem mecânico (motor desligado). Chegavam perto dos locais de repouso dos soldados, e largavam 6 bombas de 50kg. O próximo ruído que se ouvia, era semelhante a uma máquina de costura, vindo do motor do avião já a se afastar. Estes bombardeamentos causavam mais do que baixas. Em breve, deixou de haver fogueiras à noite para o lado Alemão, os soldados dispersavam-se para tentarem dormir e o simples ruído de um pássaro a bater as asas podia levantar o alerta, com medo das "bruxas da noite". 

É claro, os Fock-Wulf tentavam interceptar o inimigo depois de largadas as bombas. Um avião a 100km/h não pode fugir a um caça. Um pardal não foge a uma águia, certo?

Hehe, quando o Wulf enfrentava o Polikarpov durante a noite acontecia normalmente 1 de 3 coisas:
  1. O Wulf acabava o combustível ou a munição sem mandar o Polikarpov abaixo. É incível o que um pedaço de lenha com um motor aguenta. Depois de atingido não perdia as suas características aerodinâmicas.
  2. O Polikarpov voava perto do solo, enquanto que o Wulf necessitava de se manter em altitude. Tinha de se aproximar perigosamente do solo (a 600km\h!) para poder sequer disparar!
  3. A velocidade máxima do Polikarpov era inferior da velocidade mínima do Wulf! Um Fock-Wulf, se reduzisse a velocidade para os 110km\h caia a pique e fora de controlo! Aliás, há mais de um caso de Fock-Wulfs que se auto-despenharam para tentar abater um Polikarpov!
As "Bruxas da noite" voaram mais de 23.000 missões, largando mais de 3.000.000kg de bombas

O Polikarpov-P2 foi dos aviões mais produzidos na história da aviação e, a última baixa que provocou foi em 1954, quando um F-94 americano reduziu a velocidade em demasia e se despenhou, enquanto tentava abater um P2.



1 comment:

ArabianShark said...

"O avião era um pedaço de lenha com asas? Era." -- Lol. Tem piada porque é verdade.

Fica aqui também que já ouvi falar do Po-2 como "A Maravilha de Madeira", por motivos que o Peres tornou óbvios.

Saliento também outro exemplo da importância estratégica de ter um avião lento: o leme do Bismark for destruído por um bobmardeiro também antiquado, e, por isso mesmo, tão lento que as armas do Bismark não lhes conseguiam acertar por estarem calibradas para assumir que os aviões inimigos fossem mais veozes.