2006-02-16

Ilusões

Felicidade...tudo o que eu quero...ah, tu também, idealista? E tu, materialista? Como? Todos a queremos? Mas...se ela não existe...
Todos querem um pouco da fumaça...aliás, todos querem segurar a névoa...e nunca a largar. Jamais ficar triste...não ter remorsos...não ter sequer situações que pudessem levar a remorsos ou tristeza. Só sorrisos...a cara dorida da constante posição de felicidade dos lábios. Dorida, disse? Mas que dor, se seríamos felizes? A boca só poderia sorrir ainda mais...
Sonhemos, portanto...que as minhas palavras pintem um quadro para o qual possamos todos olhar...e que ele enfeite as paredes de cada um de nós. Cada parede! Para que jamais nos esqueçamos do que nunca poderemos ter. É uma tela. Um simples deserto branco onde alguém construiu um paraíso inacessível. Material de sonhos. E são os sonhos que nos guiam. É o desejo por algo que nos faz passar de A a B. E de volta para A. E talvez mesmo para Z, só para depararmos então com o início, trocista, aguardando mais uma volta. Que importa? Algum dia pararemos. Algum dia teremos o Z só para nós.
Como somos bonitos...e estranhos, somos estranhos...mas estranhos apaixonantes, estranhos que dão vontade de observar todos os dias, a cada hora, analisando cada ínfimo gesto.
Não há felicidade. Não há amor duradouro, fortuna ou saúde eternas. Há momentos em que a boca não sente dor e as cicatrizes da guerra não doem tanto. São essas crianças que nos pedem que as acarinhemos, que cuidemos delas e as façamos crescer. Mesmo sabendo nós que elas morrem amanhã. Ou daí a um mês. Ou no dia da nossa morte. E esse pode ser amanhã. Não há felicidade a longo prazo. Porque não temos longo prazo. Não sabemos se o temos, e ainda bem. Há o agora. A felicidade não se constrói. Quem o diz perdeu ainda mais, enquanto erigia o seu império de sorrisos. E agora que o tem, cansa-se. Não lhe parece suficiente.
Merda para o futuro! Nele só há memórias e cicatrizes! Porque o bem já passou. E esperou por nós enquanto se preparava já para dar outro passo.
O essencial é a consciência. Fazê-la em palha, para que não pese. Em betão, para que não desapareça com os ventos do passado. Enganam-nos...o que não existe é o futuro. E o passado. O nosso passado é que nós guardamos. O nosso futuro não é...Só o presente existe realmente. Só a ele o vemos e ouvimos e tocamos...
E que venha o bem sucedido e o que tem sorte ao amor e todos os que se dizem felizes no mundo. Eu prometo sorrir por eles. Afinal, eu acho-me feliz. Não sei por quanto tempo. Que idiota...