A Revolução - Serviços Académicos

Ora bem, vamos começar com a premissa de que, mais dia menos dia, havemos de nos fartar da idiotice vigente e havemos de dar o golpe de estado por que esta nação anda a clamorar há uma data de anos, às vezes sem saber. Portanto, para não nos esquecermos, vamos já tomando notas para como as coisas hão de ser quando formos nós a mandar.

Actualmente, se chegardes aos académicos às 14:00, mais coisa menos coisa, e tirardes o número 468 quando está a seer atendido o 235, o mais provável é que penseis (porque somos todos pessoas inteligentes): "Vejamos, tenho mais que fazer hoje, e podia despachar uma data de coisas nas duas ou três horas que vai demorar a atender os indivíduos à minha frente."

Ora, se saírdes e voltardes âs 15:59 no relógio do segurança, o único problema grave que pode surgir é já ter passado o vosso número (mais os três números de tolerância de que as senhoras dos guichets tanto gostam de se esquecer). Mas, se chegardes às 16:05, por exemplo, quando ainda faltam para cima de vinte números até chegar ao vosso, estais tramados: as portas fecharam (literalmente).

Aqui d'El Rei que havíeis de cá ter estado antes. Pode ser que o vosso número seja chamado antes das 17:00, mas não podereis responder. Pode ser que só às 17:37 decidam que haviam de carimbar a vossa senha para o dia seguinte, mas só se não tivésseis tido a ousadia de querer rentabilizar o vosso tempo.

O raciocínio (ou a falta dele) por detrás desta ideia é que não se pode garantir que uma senha emitida depois das quatro possa ser atendida no mesmo dia, e é evidente que alguém bem intencionado quer evitar que 400 marmanjos cheguem à Reitoria às 16:55 para caçar uma senha carimbada para, no dia seguinte, chegarem quando lhes apetecer e serem logo atendidos. Até aqui, tudo bem.

Sucede, no entanto, que alguém com intenções que me vou abster de qualificar como "boas" ou "más", mas às quais não me vou coibir de chamar "idiotas", decidiu que, por volta das 17:00, os funcionários dos Académicos têm de avaliar o volume de pessoas por atender para decidir se hão de ficar mais meia hora a desbaratar os sobreviventes ou se hão de sacar dos carimbos.

Pelo menos, esta foi a parte que eu percebi. De certeza que, no dia em que cumprir todas estas regras, hão de surgir mais duas ou três só para me lixar.

Entretanto há de se dar o golpe de estado. A corporação Disco-Bar tornar-se-á soberana, o governo há de ser re-estruturado e, se calhar, nem o nome do país fica igual. Às tantas, nem as terras hão de ficar com o mesmo nome (excepto Sintra, porque é um nome fixe. E talvez Faíl... ou talvez não).

Nessa altura, vamos apresentar dois avanços tecnológicos aos Académicos. O primeiro, nascido entre a Áustria e a Alemanha, popularizado pelos Suíços e, actualmente, conhecido apenas pelos mais iluminados (assim como nós), é um instrumento que permite medir o tempo e estabelecer pontos de referência comuns. Chameos-lhe, para simplificar, um "relógio", assim, por exemplo, pendurado onde está aquele enorme televisor que não serve rigorosamente nenhum propósito útil. O segundo, considerado por muitos como um dos clichés mais brilhantes da engrnharia Soviética: o acto de puxar a tomada. Procurem um samovar eléctrico dos bons (vão a Tula; é lá que os fazem, ao lado dos cartuchos das AK-47 - RIFLE IS FINE!!!) e hão de ver que não têm interruptor.

Agora, senhores dos académicos (na verdade, Sr. Reitor, que os infelizes dos Académicos não fazem senão cumprir ordens... devagarinho) vem a parte complicada. Tomem notas:

Quando o "relógio" marcar 16:00, pega-se na máquina das senhas e "puxa-se a tomada". Assim, quem chegar depois das 16:00, não pode tirar senha e não é atendido, mais ou menos como acontece agora. Depois, quando o mesmo relógio marcar 17:00 (ou 17:30, como preferirdes), acaba-se de atender os utentes que já tenham sido chamados, encerram-se os guichets e examinam-se as senhas dos utentes que ainda não tenham sido atendidos.

Se isto vos pareceu complicado, lamento imenso, mas a parte a seguir é ainda mais complicada. Façam um esforço, vá lá...

As senhas, quando são emitidas, recebem um número E (reparem bem, conjunção!) tanto a data como a hora de emissão. Portanto, quando os guichets tiverem encerrado e estiverdes a examinar as senhas, aquelas cujo número seja SUPERIOR ao último número chamado E (outra conjunção. Não é disjunçao. Não se baralhem) tiverem sido emitidas no dia actual (não vá alguem menos bem intencionado lembrar-se de aparecer com uma senha caducada há dias) são carimbadas para o dia seguinte.

Pronto, respirem de alívio, a parte complicada já passou. A partir de agora é tudo simples.

Quando as senhas que mereçam ser carimbadas tiverem sido, efectivamente, carimbadas, não vos resta senão pedir aos utentes que se vão embora. E, agora que já toda a gente se foi embora, está na hora de fechar as portas. Agora, não é às 16:00, quando os pobres indivíduos que tiraram uma senha às 15:00 ainda têm três quartos de hora para esperar e não podem fazer nada entretanto.

Para que não nos chamem de totalitários ou outros nomes feios, lembro quem achar que o sistema actual é perfeito e é de pleno direito dos burrocratas exigir que uma pessoa não possa tratar da sua vida sem abdicar da sua vida que existe, neste blog, e, de facto, neste post, uma secção de comentários onde tendes o meu convite para me explicar por que é que eu estou completamente errado e vocês é que sabem. É consigo, Sr. Reitor. Alce o seu magnífico cú da cadeira e erga-se perante o desafio (figurativamente, claro, responda sentado que é mais confortável).

Pax vobiscum atque vale.