2018-04-30

Avengers: Infinity War - Part I (uma crírica sem spoilers)

Não vos vou mentir; o universo cinemático da Marvel é a minha fanchise cinematográfica favorita do momento e, para não perder pitada, obriguei-me a ver até os filmes em que não tenho grande interesse como preparação (nomeadamente, ambos os filmes dos Guardiães da Galáxia, que não são maus, mas, no meu entender, também não são os melhores da franchise, e os "Black Panther", que é, no meu entender, o pior da franchise).

Mas este é bom. É preciso conhecer as personagens todas de antemão, porque esta franchise tem-se vindo a construir ao longo dos últimos dez (10) anos*, e o filme não está para repetir o que deviam ter estudado em casa**. Para entenderdes as diferentes relações entre as várias personagens e o status quo do universo do filme quando este começa, tereis de ter, pelo menos, um entendimento superficial dos filmes que o precedem**. Cumpridos estes requisitos, estais prontos para desfrutar do culminar de uma década de cinema.

Desde o primeiro momento que o filme não se ensaia nada em misturar personagens de diferentes filmes, exacerbando, deliberadamente, os contrastes entre os diferentes tons dos diferentes filmes e das personagens que os protagonizam, tentando - aliás, com bastante sucesso - criar com isso algo belo. Nesta questão, tenho que salientar ainda que o filme, respondendo às preces de montanhas de fãs, mostra-nos finalmente as interacções entre os personagens mais loquazes dos seus respectivos filmes, produzindo drama, comédia e acção em iguais medidas, enquanto salienta as diferenças entre acturos cujos nomes viémos a idolatrar, exacerbando, ao mesmo tempo, as diferenças entre não só as personagens como também os actores que as interpretam e entrelaçando os melhores fios do novelo de cada um numa tapeçaria deslumbrante.

O filme não se poupa ao rótulo de "um filme de acção", oferecendo cenas visualmente espectaculares e momentos "Fuck Yeah!" amiúde, permeados com "piscadelas de olho" aos fãs acérrimos dos filmes e das bandas desenhadas - tenho a impressão de que o General Peres ia gostar deste filme.

Folgo em constatar e anunciar que este filme rejeita firmemente todos os avanços corrosivos da justiça social - os membros do elenco de diferentes raças, sexos, etenias, orientações e espécies são o que são (o que tem vindo a ser estabelecido) e não são o que não são (tokenismo, acção afirmativa, "progresso" a bem do próprio "porgresso", etc.). Não há linhas marcadas entre etno-estados, ideologias sociais, teoria de géneros (seja lá isso o que for), supremacia racial ou outras coisas feias. E, por mais que pense, não consigo lembrar-me de ninguém que tenha cabelo roxo. A Nebula tem pele azul, a Gamora tem pele verde e o próprio Thanos é arroxeado, mas não tem cabelo.

Mas, guardando o melhor para o fim, direi que o maior sucesso deste filme é criar (enfim, apresentar) um antagonista quase "amável", infinitamente distante do arquétipo do "mau" que é mau só porque nasceu mau, e mesmo mais interessante ainda que o vilão movido por um desejo egoísta que se sobrepõe à moralidade e à ética; ao invés, este vilão acredita piamente na virtude do seu objectivo ulterior, faz-se sofrer com os sacrifícios a que se obriga e reconhece o valor dos seus adversários (mas mais não digo). É muitíssimo mais interessante que um "mauzão" que escarnece abertamente do melhor dos seus inimigos enquanto retorce o bigode com uma gargalhada sardónica - digo eu, com os nervos.

No lado negativo, o filme só acaba para o ano, mas, antes de pausar até então, deixa a sua própria história bastante "arrumadinha", sem os cliffhangers de que a televisão se sustinha nos anos 60 (e mais tarde...), pronta a ser continuada até à sua conclusão em 2019.

Recomendado!

Pax vobiscum atque vale.

* É verdade; o "Iron Man", que deu início a esta história toda, saiu em 2008. Agora para um bocadinho de contexto, desde 2008, acabei um curso universitário, tirei a carta de condução, mudei-me para outro país, matriculei-me noutra universidade, desisti de outro curso universitário, deisiti de mais de duas décadas de sonhos acumulados, voltei à terra natal, debati-me com uma depressão clínica, arrendei dois apartamentos, tive três empregos, comprei um automóvel e rapei o cabelo (não nesta ordem, mas lá perto). Entretanto, o Robert Downey Jr. continuou a ser o Iron Man - e cada vez mais cheio de pinta!

** Queria ter escrito aqui que não é preciso ver absolutamente todos os filmes da Marvel desde 2008, e listar a seguir só os filmes que oferecem informação indispensável à compreensão de rigorosamente tudo o que se passa neste filme, mas cheguei à conclusão que afinal não; se quereis ser capazes de devorar as entrelinhas do filme sem deixar de compreender uma sílaba que seja, tereis mesmo de os ver todos. Mas, ao menos, ofereço-vos uma checklist:

 - Iron Man (2008)
 - The Incredible Hulk (2008)
 - Iron Man 2 (2010)
 - Captain America: The First Avenger (2011)
 - Thor (2011)
 - The Avengers (2012)
 - Iron Man 3 (2013)
 - Thor: The Dark World (2013)
 - Captain America: The Winter Soldier (2014)
 - Guardians of the Galaxy (2014)
 - The Avengers: Age of Ultron (2015)
 - Ant-Man (2015)
 - Doctor Strange (2016)
 - Captain America: Civil War (2016)
 - Thor:Ragnarok (2017)
 - Spider-Man: Homecoming (2017)
 - Guardians of the Galaxy Vol. 2 (2017)
 - Black Panther (2018)

2 comments:

ArabianShark said...

First!

cogni4700 said...

Vi um backup de um backup do Black Panther, está fixe.
O Homecoming tenho medo de ver, tenho medo que tenham tornado o Spider-Man num idiota.
Preferia o Spider-Man pós Tobey Maguire.