2017-03-13

Foda-se a bófia!

Os meus estimados colegas e amigos, por ventura de serem pessoas que (e disto certifiquei-me pessoalmente junto de cada um de vós ao longo de vários anos) não são suficientemente idiotas para serem agentes da PSP, já perceberam, pelo vernáculo, que não estou no meu estado de espírito "padrão".

Talvez saibam que estou à procura de emprego. Acontece. O IEFP (que, adianto, omite, do seu título, a parte "de quem cá trabalha" de entre a segunda e tercera inicial da sigla pelo qual o conhecemos*) confere-me a benesse de me ajudar com um subsídio mensal. Longe de me querer queixar da generosidade do IEFP, sucede igualmente que o mesmo subsídio cobre pouco mais que a minha renda de casa, chegando, mais ou menos, para as despesas fixas necessárias à subsistência (falo de água, gás, electricidade e telecomunicações, que, ainda que possais achar que é um luxo, é igualmente indispensável à procura de trabalho, sobretudo na nossa época e na nossa área funcional). Assim sendo, muito grato pela ajuda, conto os meus tostões e estico o dinheiro o mais que posso enquanto procuro uma situação melhor.

Acontece igualmente que a benesse que me vai permitindo subsistir, apesar das dificuldades, está sujeita a abuso por indivíduos que, inescrupulosamente, se deixam perdurar nesta situação e mesmo que procuram alegar incumprimento por parte do IEFP, revindicando não ter, em determinada ocasião, recebido o que o IEFP, humanamente e quase por caridade, lhes atribui, pelo que se protege, emitindo mensalmente um cheque, que é mais difícil de contestar, omitir ou suprimir que uma transferência bancária, o que me obriga** a depositar o cheque de cada vez que o recebo. Mas não é disso que me queixo.

Ora hoje fui depositar o cheque deste mês. Procurei lugar para estacionar perto da balcão do meu banco, o que não é fácil, não só porque o mesmo está em pleno coração da chamada "zona pedonal", onde os automóveis perdem prioridade perante qualquer peão sob qualquer circunstância e onde há ainda menos sítio para estacionar que no resto desta mal-parida terra onde NUNCA HÁ ONDE DEIXAR A MERDA DO CARRO!!! Reparei num automobilista que, tendo estacionado antes, ocupou o seu veículo e partiu, deixando vago o lugar onde estava. Naturalmente, ocupei o mesmo espaço.

Celeremente resolvi os meus assuntos no banco (depositar um cheque não demora sequer 20 minutos) e quis seguir a minha vida, quando reparei que tinha sido multado. Caso nunca tenhais sido multados, sabei que a multa não diz rigorosamente nada que não se já saiba: diz a marca, modelo, cor e matrícula do veículo (que, se o veículo vos pertence, já deveis saber), a data da infração e um rabisco que passa pela rubrica do agente que autuou o veículo, desprovido de qualquer obrigação de ser legível. Saliento que o impresso que vos é deixado no pára-brisas tem muito mais lacunas, mas, aparentemente, não existe qualquer obrigação por parte do agente de as preencher.

Por sorte, encontrei uma agente da PSP que revelou uma atitude extremamente blasé perante a multa, como se as obrigações legais "expostas" (lacónicamente como estão, não acedo a considerá-las devidamente expostas) no verso da notificação não existissem. Se se tivesse tratado de uma pessoa honesta (como seria de esperar de uma agente da polícia), ter-me-ia dito ter sido ela quem me autuou e explicado as condições da infracção (aproveito para a explicar, que agora me apercebo de que ainda não o fiz: estacionei em cima do passeio. Em minha defesa, o passeio não apresenta diferença de nível em relação à estrada, nem nenhum padrão que não se encontre fora das estradas ou zonas de estacionamento (faço toda a questão de insistir nesta questão, uma vez que, logo do outro lado da estrada, havia um estacionamento em espinha cujo piso é exactamente igual) nem sinalização que o diferencie do demais pavimento. Ademais, certifiquei-me de que não só não havia mais sinalização da proibição de parar ou estacionar como também de que o carro não impedia a circulação de outras viaturas nem de velocípedes nem de peões, mesmo os de mobilidade reduzida, nem impedia o acesso à via ou a vias de acesso ou caminhos privados nem a abertura de portas, janelas, portões ou portinholas de outros veículos; em suma, NÃO ESTAVA A ESTORVAR NINGUÉM), mas não; mandou-me ou ir à esquadra ou "deixar que me chegasse a casa". Fui, portanto, à esquadra.

Na esquadra fui atendido por um agente a quem expliquei que, por não ter incomodado ninguém, necessitando apenas de depositar o meu único e magro rendimento, tinha sido deprivado de €30. Para que conheceis o contexto, há já quase dois anos que vou ao Continente mais ou menos uma vez por semana, e que semana em que lá deixe sequer €30 é semana em que ou perdi a cabeça e me deixei enamorar por qualquer luxo superfluo ou uma desgraça me obrigou a substituir qualquer coisa cara. Este agente só depois de muita insistência concordou em informar-me do processo de contestar uma multa que se acha injusta. No entanto, apesar da sua boa vontade, o agente empregou todos os polissílabos do dicionário de sinónimos para dizer rigorosamente NADA, pois, como sabeis, não se pode dizer o que não se sabe. "Envie uma carta" e "explique isso tudo muito bem" é a parte que qualquer idiota lobotomizado com um picador de gelo rombo por um macaco cego cujas patas brutas e sujas tremam já sabe; a quem enviar a carta, como a redigir, e quais as informações indispensáveis à mesma são a parte que eu quero saber e que o agente que me atendeu não foi capaz de me dizer. O que me disse, e não foi só uma vez de passagem, foi "vá falar com a Comandante", que era a agente que me tinha autuado. Assim fiz.

Aparte, deixai-me contar-vos uma outra história, a bem do contexto: certo dia, em Viseu, seguia, na capacidade de passageiro, num veículo que, por lapso, trazia o farol de nevoeiro traseiro ligado indevidamente. O condutor do mesmo foi mandado parar pelos agentes da autoridade, e terá a sua própria história para contar dos demais eventos, mas eu, que não tinha feito rigorosamente mais nada que sentar-me no carro de um amigo meu e imediatamente oferecer o meu cartão de cidadão perante a frase "tem algum documento que o identifique", fui tratado como um escroque, ofuscado, desnecessariamente, numa tentativa de intimidação, com lanternas, repuxado para fora do meu lugar e ameaçado de que seria revistado antes sequer de alguma sugestão de que tivesse, em minha posse, "alguma coisa que o comprometa" (sic), que, claramente, não tinha. Ou seja, se viveis na doce ilusão de que "o polícia é um amigo" que só serve para nos proteger e não faz mal nenhum a pessoas de bem e que as histórias de polícias a bater em pessoas que "dindu nuffin" são relatos exagerados de criminosos que se querem fazer passar por inocentes e coisas que acontecem "lá longe", desenganai-vos; há, entre as fileiras da nossa PSP, proverbiais maçãs podres.

Armado com esta memória, fiquei extremamente feliz de ver que a comandante não trazia um casse-tête, como era hábito há uns 20 anos, porque, da maneira como me tratou, tive sinceramente medo que me quisesse bater, assim que lhe disse que um colega dela me tinha recomendado que falasse com ela. Exigiu saber quem tinha sido e recusou-se a falar comigo até ter tentado, de duas maneiras diferentes, falar com o agente em questão, que, talvez por medo que a comandante lhe batesse por telefone (provavelmente, confundiu-a com o Chuck Norris. Deve ter sido por causa da barba), não atendeu. E, tão preocupada que estava em tratar-me mal, recusou-se a revelar um iota que fosse de informação respeitante ao processo de contestar a multa. Igualmente se recusou a ouvir qualquer argumento mitigante da minha culpa. Posso, em toda a honestidade, dizer que não fui grosseiro, nem mal-criado, nem agressivo, nem insistente, sobretudo porque, quando percebi que, na PSP, a patente é inversamente proporcional a qualquer medida de virtude, fui-me embora antes que ela abaixasse as calças e revelasse um casse-tête fora do padrão da PSP com o qual me bater, em conformidade com a atitude que tinha vindo a revelar.

Enquanto voltava para a esqudra, onde tinha estacionado (desta vez, em situação tal que não fui autuado), um outro agente da PSP, que reparou no meu estado de agitação (reparem que agora não sei se vou ter que comer daqui a 15 dias; €30 é dinheiro para mim, foda-se!) e abordou-me. Este agente da PSP, conforme evidenciado pela falta de divisas no seu uniforme (e, consequentemente, pela sua baixa patente), era um homem correcto, que procurou reconfortar-me e dizer-me, em termos simples e de acordo com o seu melhor conhecimento, como contestar a multa, o que só serviu para para introduzir mais possibilidades na equação, já que nada do que ele me disse se coaduna com o que o colega da esquadra me tinha dito. E isto não é uma acusação contra qualquer um dos dois agentes; é sintomático da balbúrdia que é o pomposamente chamado "establecimento da autoridade", em que a mão direita não sabe o que anda a esquerda a fazer.

Esta é a parte em que digo alguma coisa como "o que mais me fode é que todos os dias vejo filhos-da-puta mal estacionados e ninguém os multa" ou "e os cabrões que todos os dias deixam o carro no estacionamento do meu prédio a ocupar dois lugares?" ou mesmo "então, o gajo antes de mim, nada; agora, eu...", mas não; o que me fode é:

1. Ter sido tratado como um criminoso pela Comandante;
2. Que ninguém me saiba dizer, em termos claros, o que é que eu tenho O DIREITO a fazer;
3. Os pontos da carta; OK, pronto; as contra-ordenações ligeiras não acarretam perda de pontos nem inibição de atribuição de pontos em Junho de 2019. Menos uma irritação. Huzzah!
4. €30 É DINHEIRO, FODA-SE!!!

Agora que me aproximo do fim da minha intrevenção, recordo-me que pode haver entre vós, leitores, quem não esteja contemplado pelo primeiro parágrafo desta posta. Entre esses, pode surgir quem tenha, nesta altura, vontade de comentar, chamando-me "bitch", "whining bitch" e variações. Apelo, portanto, à coragem e decência de tais dissidentes que, contra confirmação da ausência das vossas gónadas, tanto em sentido literal como no sentido em que, metaforicamente, estas se traduzem no vosso valor enquanto indivíduos, por oposição a vis e vulgares pilhas de esterco, que guardeis tais comentários até estardes em posição de mos entregar em pessoa, cara a cara, suficientemente perto de mim para me apertardes a mão, conforme soi aos membros educados de uma sociedade moderna. Se, por outro lado, não for essa a vossa intenção ou, mais simplesmente, se fordes, de facto, dos meus estimados colegas e amigos, fica este parágrafo sem efeito.

É esta a parte em que digo "pax vobiscum atque vale", mas, hoje em particular, escolho uma mensagem mais recente, vinda de outras terras, que considero mais relevante:

Fuck tha police!*** -- N.W.A.

* quero, por isto, implicar que se trata do "Instituto do Emprego de quem cá trabalha e da Formação Profissional", porque não conheço, que saiba, uma única alma que possa dizer que deve o seu emprego ao IEFP sem lá trabalhar.

** de acordo; podia pedir ao IEFP que me fizesse a transferência ao invés de enviar um cheque. Está na minha lista de afazeres. Escusais de mo recordar, mas obrigado na mesma.

*** sabeis que, geralmente, não tenho nenhuma má vontade aos agentes da autoridade ou ao estabelecimento da mesma, mas a caracerística inalienável da Polícia é zelar pelo bem-estar dos cidadãos, e privar-me, no meu momento de dificuldade, no valor de mais de uma semana de víveres não é em prol do meu bem estar. Desta forma, foda-se esta bófia que só serve para nos foder.

1 comment:

Sintra said...

https://www.youtube.com/watch?v=Z7-TTWgiYL4