O bloco islâmico, com uma religião\governo extremamente bem organizada. O "governo", era nem mais nem menos que o meio para a religião expandir, e esta estabilidade de governo permitia segurança. Em que é que isto se traduzia? Pessoas seguras e bem alimentadas dedicam-se à ciência, cultura, e assim o bloco islâmico progredia.
Depois o bloco Católico. Ainda a recompor-se da queda do império Romano no ocidente, usava a religião como modo de controlo. O rei era escolhido por Deus para governar, e o povo embrutecido e receoso da ira Divina e da foice islâmica que ameaçava por todo o lado (islão na peninsula ibérica, o sul de itália e sicilia islâmios, e o império bizantino a este com hordas à sua porta) aceitava o Rei Divino.
Por fim, temos os Pagãos. Atenção, não confundir com hereges (porque o herege é aquele que por definição se desviava do ensinamento canon do Católico). O bloco Pagão era um autêntico monstro adormecido na Europa. Adoradores dos "Deuses Antigos", eram desde os Sami, os Tengri, os eslavos, até aos nórdicos.
Vou tentar não divagar muito. Mas uma religião organizada (como Islão ou Catolicismo) foi uma grande vitória para controlo de populações. Não roubes porque Deus castiga. Não mates ou te revoltes. Aceita as ordens. Paga os impostos para o bem comum. Em tudo isto as religiões organizadas eram um grande trunfo para a elite governante.
É aqui mesmo que está o grande problema pagão. Para estes pagãos, não há nem céu nem inferno. Quando morres vais para os infernos, ponto. Na melhor das hipóteses apodreces no chão. A ideia era então viver uma "boa vida".Combate, ouro, mulheres e concubinas era a ideia normalmente aceite como uma "boa vida". É claro, os "governos" pagãos eram tão estáveis como um castelo de cartas. Assim que um governante morria, as populações não aceitavam o filho como líder natural. Seguiam o mais forte.
Quando a Europa começa a aquecer ( no chamado período quente da idade média), os países mais a norte, habituados ao frio e poucas colheitas, enfrentam de repente um boom na comida disponível e na população. Especialmente os pagãos nórdicos, cujo panteão divino era quase composto por 12 deuses da guerra, quando se vêm cheios de homens adultos sem nada para fazer, só lhes passa uma coisa pela cabeça:
Vamos para a Guerra.
A Europa tremeu.
É especialmente entre os anos de 840 e 860, que o terror chegou a tal ponto que grande parte do mundo Católico da altura estava convencido que estavam a viver os últimos dias, o Armagedão.
Queria falar com mais detalhe de 2 figuras especialmente importantes:
Ragnar e Rurik. Ambos estão envoltos em neblina lendária, mas a certeza das suas figuras históricas dificilmente pode ser negada. A imagem que temos deles foi desenhada a escrita pelos seus inimigos ("nós"...), o que faz com que as suas histórias sejam ainda mais impressionantes, porque é bem provável que os seus feitos tenham sido menorizados no relato escrito.
Rurik decidiu saquear, pilhar e invadir para Este. Aliás, o que está escrito é que as tribos pagãs que ocupavam o que hoje é a Russia, chamam os Varângios (Vikings, nórdicos, chamem-lhes o que quiserem) para por fim a uma guerra civil. Seria o equivalente aos USA pedirem à Coreia do Norte para policiar Nova York... mas enfim, quem sou eu para contestar. Os Varângios, pessoal ordeiro e bem comportado, liderados por Rurik acabam com a guerra civil e não só. Manda o poder local à fava, e estabelece ele próprio um Reino nas terras que foi contratado para apaziguar.
Qual a importância de Rurik? Este pequeno reino que eles estabeleceu foi a fundação do reino de Rus.
Imaginam ao que deu origem Rus? Deu origem ao reino de Rus de Kiev. Mais tarde grande Reino de Moscovo, e mais tarde o Reino dos Tsars da Russia. Esta nem Afonso Henriques bate...
A dinastia dos descendentes de Rurik, começa em 860 a acaba quase em 1600. Moldou para sempre o Este Europeu.
Vamos a uma figura mais contestada. Ragnar!
Fontes inglesas e francesas medievais chegam a dizer que Ragnar não existiu. Foi mito. O sobrenome dele provavelmente significava "calças cheias de fezes", pois, segundo as mesmas fontes, morreu de diarreia!
Se fosse eu a viver em Inglaterra ou França nessa época, até acrescentava: Ragnar era meio anão, com apenas 1.20m de altura. Cego de um olho e vesgo do outro. Coxo das duas pernas e infértil.
Muito reais foram os filhos de Ragnar, isso ninguém tem dúvidas, portanto causa-me espécie em como é possível considerar os filhos figuras histórias, mas o pai como mito.... Adiante!
Ragnar Lothbrok, ao contrário de Rurik, virou, no mesmo período de tempo, as atenções para Oeste: França e Inglaterra. O salteador Viking médio usava cota de malha, escudo redondo, espada curta ou machado de cabo curto e fazia do saque e combate a sua profissão. Quando chegam à costa inglesa encontram Saxões cuja dedicação principal era a ceifa do cereal, equipados com lança curta, a roupa que tinham no corpo,e o pedaço de madeira mais próximo a servir de escudo. Não é de admirar que os combates pendam apenas para um lado. Os franceses não foram melhores diga-se em defesa dos ingleses...
Ragnar e seus homens pilharam praticamente tudo o que se encontrava perto da costa ou da margem de um rio, desde a Escócia até Paris. Não lhes interessava grandemente se eras um Rei, camponês armado, mulher, monge ou criança, o tratamento era brutal e igual. Nestes anos em Inglaterra, as orações passaram a conter:
A Furore Normannorum libera nos, Domine - Livrai-nos Senhor da fúria dos homens do Norte.
Em 845 Ragnar desce o rio Sena até Paris, com cerca de 100 barcos. Pilha, saqueia e faz dos habitantes de Paris aquilo que bem lhe apetece (não vou entrar em detalhes, mas 5000 homens a ocupar Paris durante dias não foi pera doce...). O rei dos Francos paga a Ragnar 2500kg em prata e ouro para Ragnar se ir embora. E embora Ragnar foi (pilhando mais uns mosteiros no caminho de volta é claro). Conta-se que, quando Ragnar volta a casa, que chora ao se recordar que no meio de tanto tempo em pilhagem, não teve ninguém que lhe tivesse dado uma, uma luta sequer que seja digna de ser contada, tendo aliás perdido mais homens para um surto de peste do que em combate.
Como já tinha referido, fontes Francesas e Inglesas dizem que Ragnar morre de "diarreia" nalgum recanto remoto. Mas as fontes nórdicas dizem que, quando Ragnar volta às pilhagens em Inglaterra, Aella, um tirano local que usurpa o poder em York o consegue capturar e rapidamente o atira a um "poço de serpentes". O que é facto é que os filhos de Ragnar amassam aquilo que é chamado de "O grande exército pagão" e vingam o seu Pai passando a Inglaterra a ferro e fogo nos próximos anos.
Pode este relato parecer nada mais que o resumo de actos bárbaros infligidos nos povos ordeiros da Europa, mas não é verdade. Foi esta brutalidade Viking que marca para sempre a nobreza Europeia. Foi a altura de acordar. Era necessário ter um exército profissional. Forças a cavalo móveis. Mas acima de tudo, tornou-se uma emergência a derrota dos povos do norte. E foram realmente derrotados, mas nunca no campo de batalha. Os vikings foram simplesmente convertidos. Um Católico não pilha e mata um irmão da fé.
Depois de convertidos foram dos maiores aliados do Cristianismo no Oriente. Os Bizantinos passaram a manter um contingente de "guardas Varangios", composto exclusivamente de nórdicos e pagos a peso de ouro, usados em momentos cruciais nos combates contra o Islão.