2012-07-14

Prólogo I – A queda da Roma Antiga.


Visto que o Peres puxou o assunto do défice em Portugal, através do artigo Grandes Economistas e como hoje não me apeteceu dedicar tempo para o trabalho do IT (que está sempre em atraso), decidi finalmente escrever alguma coisa de jeito para este nosso blog.
Falar do futuro ou do que irá acontecer é sempre um tema… subjectivo, senão mesmo “mayano” e quando se fala sobre a Economia Europeia, pior ainda. Dependendo com quem se falar, se perguntarmos a alguém se acha que o problema da Dívida Europeia se irá resolver, poderemos obter respostas como “O que é isso?”, que representa a resposta de quem está a leste deste mundo e por isso nem conta para as estatísticas, “Tudo se irá resolver com medidas de austeridade e esforço do cidadão europeu comum”, que representa a visão do político optimista ignorante que não quer perceber que austeridade só pode ser aplicada até certo ponto (ver Curva de Laffer), “Vai ser o fim do mundo. Estamos condenados, vamos voltar à idade da Pedra”, que representa a visão do Pessimista que espalha o seu pessimismo mas sem perceber do que está a dizer e deve ser ignorado quando observado e por fim, “Muito provavelmente o Euro está condenado a não ser que inflacionem a moeda através da impressão épica de notas” o que representa uma visão muito realista do que poderá vir a acontecer. Não só esta é a minha posição como também vou explicar o porquê de a apoiar.

Prólogo I – A queda da Roma Antiga.
Muitos de nós lembram-se certamente de aprender nas aulas de História do ensino básico, algumas das causas da queda da Roma Antiga. Eu lembro-me perfeitamente de a minha professora de História, focar-se mais nas invasões bárbaras como a principal causa para a queda do império e também, como o alargamento e extensão das defesas do mesmo, no entanto, eu prefiro focar-me noutro aspecto muitas vezes esquecido mas que para mim, considero que tenha sido o golpe fatal, a questão político-económica.

A divisão do Império
O declínio começou por volta de 140 AD. Guerras civis, ataques constantes por parte das tribos germânicas Godos e Vândalos, enfraqueceram o Império tendo por consequência, sido perdido o apoio na própria lei Romana.
O Império romano estava espalhado por toda a Europa Ocidental, onde dentro da própria máquina militar, havia diversas e diferentes opiniões sobre o que é que o Imperador haveria de ser, culminando com cada um dos exércitos que compunha a máquina militar romana, a empurrar o seu próprio “candidato” para Imperador e envolvendo-se em batalhas para colocar o seu representante no lugar. Entre 211AD e 284AD, existiram 23 “imperadores-soldados”, todos depostos por rivais!

Para consolidar um império deste tamanho, era necessária uma forte máquina militar, bem gerida e mantida sob controlo, onde significa que seria necessário um controlo muito apertado dos gastos financeiros ou seja, da Dívida!

A desvalorização do Denário
Para aumentar o financiamento da máquina militar romana, era necessário obviamente aumentar os recursos financeiros do Império e para tal, existiam várias hipóteses tais como, aumento de impostos, aumento de receitas ou desvalorização da moeda. Para que se conseguisse aumentar as receitas naquele tempo, teriam que se aumentar as exportações para fora do Império, o que se tornava complicado visto que este mesmo estava sob ataque de todas as direções. Diversos foram os imperadores que optaram pela via mais fácil com sucessivas desvalorizações da moeda ao longo de décadas! Visto que naquela altura, só se vivia cerca de 40 anos, seria normal não perceberem os efeitos a longo prazo, sendo preferível “chutar a lata” para a frente, para que quem venha a seguir, resolva o problema.



O Denário, era uma moeda de prata de aproximadamente 4,5 gramas de prata, usada em transações comerciais de baixo custo, ou seja, para as compras do dia-a-dia, para pagamentos de ordenados enfim, para a economia das massas, onde para compras de altos valores, era usado o Áureo, uma moeda de Ouro, feita de aproximadamente 8 gramas de ouro (1/40 da libra romana) que fora padronizado por Cesar.

O Denário já ao longo de 2 séculos viria a ser constantemente desvalorizado para o sustento da máquina de guerra do império e para o próprio sustento da podridão de Roma! Como é que se desvaloriza uma moeda deste tipo? Simples, reduz-se a quantidade de prata que nela existe, substituindo por outro metal, um núcleo de ferro por exemplo. Mesmo o Áureo fora desvalorizado no tempo de Nero, passando a conter apenas 1/45 libras romanas de ouro.
Esta moeda, literalmente indexada à prata, era a espinha dorsal da economia Romana! Os cidadãos Romanos que ganhavam o seu ordenado em Ouro eram raros, sendo que a grande maioria recebia e fazia a sua vida regular com Denários.  
A desvalorização do Denário mostrou-se fatal. No final do Império de Marcus Aurelius Valerius Claudius Augustus, o Denário estaria já a sofrer uma hiperinflacção que viria a destruir a economia romana, visto que a moeda em si pouquíssimo valor teria, lançando o Caos Económico por toda a Roma Antiga. Os cidadãos romanos que ainda possuíam ouro sob forma de Áureos, ainda se conseguiram safar, ficando para trás todos os que optavam pelo Denário, tendo sido lançados para a pobreza e a miséria, por não terem uma moeda para representar o seu verdadeiro esforço de trabalho acumulado.

Sem uma moeda como o Denário para suportar a economia de massa do Império Romano, não haveria forma de suportar a máquina militar romana ou de evitar o desmantelamento da mesma. Deserções no seio militar, guerras internas de poder, ataques militares externos, enfim, estava constituída a tempestade perfeita.

Engraçado como os tempos de hoje (União Europeia e Euro) parecem orientar pelo mesmo caminho. Mais tarde, irei (tentar) publicar as minhas opiniões sobre isto.

1 comment:

Peres said...

Boa visão do lado económico. Para mim, ao mesmo tempo que esta catástrofe económica acontecia foi a banalização da cidadania que acelerou o colapso.

Senão, vejamos que, antes de 212AD, apenas podia ser um cidadão romano quem:
1) Tivesse ambos os país como cidadão romano

Ou

2)Fossem Auxilii nas legiões (soldados auxiliares por 20 anos).

Ser cidadão era algo que muita gente que vivia no império almejava, vista passar a ter o direito de :
1)Votar
2)Poder realizar contractos comerciais (essenciais para se fazer negócio directamente com o próprio império)
3)Direito de casamento (legal, ou seja, casamento entre dois cidadãos fazia com que os filhos fossem cidadãos e não só, retivessem o título mais alto entre o casal. Se um cidadão tivesse filho de um não cidadão, o filho retinha o título mais baixo, ou seja, do não cidadão)

Claro, também tinha deveres, como o pagamento de imposto e serviço militar obrigatório para os homens (que era visto como uma honra, e o cidadão, ao contrário do auxilii tinha acesso ao melhor equipamento militar do mundo naquela época).

Resumindo, antes de 212, os exércitos eram grandemente compostos de cidadãos leais e aspirantes a cidadãos.

Em 212 foi concedido a todos os habitantes do império não escravos a cidadania.... Ou seja, passou num instante a haver muita, muita gente a ser obrigada a pagar imposto + serviço militar obrigatório que tinha tudo menos vontade (e lealdade) de lutar por Roma.

Não digo mais para deixar espaço para o clay.