2012-03-19

Gualdim Pais, o vulto por detrás de um Rei



Gualdim Pais. Que figura histórica poderia ser ao mesmo tempo igualar os feitos de Geraldo, o Sem Pavor e ser tão o seu oposto?

Nascido em 1118 no seio da nobreza minhota e 9 anos depois do nascimento de Afonso Henriques, seguiu desde cedo o jovem. Não se conhece Gualdim Pais como sendo um homem incrivelmente corpulento (ao contrário de Afonso, a acreditar nos escritos), nem como sendo um grande estratega, filósofo ou poeta. É armado cavaleiro em 1139, com 21 anos e os próximos 10 são passados na sombra de Afonso Henriques. Talvez por isso, Gualdim Pais decide partir numa Cruzada para a Palestina.

Aí, junta-se à ordem dos pobres cavaleiros de Cristo, também conhecida como ordem dos templários e o que se passa depois está perdido para a história. Em 5 anos de cercos e combates, Gualdim sobe incrivelmente rápido na hierarquia da ordem, ao ponto de a quando o seu regresso a Portugal trazer consigo várias relíquias da Palestina.



Chega a Portugal mudado. Seus homens tinham uma fé inabalável nas suas capacidades, e a sua habilidade de mobilizar aldeias e vilas inteiras para combater os Mouros não tinha par. Afonso depressa vê o seu potencial, e lhe oferece terras na área de Sintra.

Mas Gualdim não fica por aí, consegue terras por todo o país usando a sua influência e fundos quase inesgotáveis. Edifica castelos em Almourol, Penarroias, Longroiva, Ozêzer, Cardiga, Pombal, Ega, Redinha, Idanha-a-Velha, Monsanto, mas mais importante, e em 1160, Thomar (Tomar). Ao mesmo tempo, os templários de Gualdim estão presentes na linha da frente onde quer que haja combates com infiéis, e é nos anos em que Geraldo lidera a ofensiva que Gualdim trabalha, mais uma vez na sombra, a edificar fortificações e cidades.

É no contra-ataque mouro de 1190, onde o grande Rei Abu Yacub Al-Mansur lida as tropas Marroquinas e derrota inclusivé o rei de Castela que Gualdim, já com 72 anos de idade mostra o fruto do seu labor. São as suas praças fortificadas que impedem o grande Rei de avançar com o grosso do exército para além do Tejo, mas mais importante acontece no cerco de Tomar.

Tomar era na altura pouco mais que um vilarejo, mas a fortificação que os Templários estavam a erguer à sua volta ameaçava tornar a vila numa praça forte e num espinho pronto a ferir o flanco de qualquer avanço mouro no futuro. É por isso que Abu Yacub Al-Mansur manda 900 dos seus melhores a cavalo para saquear e destruir Tomar.

Cercados e com a ameaça de morte pela fome, sem hipótese de receberem reforços nem de usarem as suas montadas para a tão clássica carga a cavalo a que estavam habituados, Gualdim ordena o impensável: "Abram os portões".

Não chegavam a 200 templários, famintos e sequiosos, encabeçados por Gualdim, um velho de 72 anos. E no entanto, aí estavam, de portões escancarados a desafiarem o avanço de 900 dos melhores que os infiéis tinham para oferecer. Reza a história que no momento em que espada se cruzou com sabre os templários de Gualdim gritaram "Non nobis, Domine, non nobis, sed nomini Tuo da gloriam" (Não por nós Senhor, não por nós, mas pela tua Glória) e verdade é que a mortandade foi tanta que desde esse dia as portas de Tomar ficaram conhecidas como "Portas do sangue".



Sangue infiél, pois a história só reza dos bravos 200 que derrotaram a hoste invasora, e ainda hoje Tomar se ergue, dentro de fora de muralhas. Gualdim Pais morre aos 77 anos de idade, a mesma idade com que Afonso tinha falecido, 9 anos antes, mas atrevo-me a dizer que ainda hoje o seu vulto segue os destinos do País.

4 comments:

Sintra said...

Brutal!

Anonymous said...

MOAR!!!!

cogni4700 said...

Sou de uma cidade fundada por ele e eu aprovo este blog post :p

Peres said...

Como sabem a sede dos templários foi Tomar. Os fundos inesgotáveis de Gualdim (e da ordem) eram já na altura objecto de cobiça, e ainda hoje se diz que, enterrado algures no castelo de Tomar estarão relíquias e tesouros trazidos ao longo dos séculos pelos Templários.

Se é verdade ao não, não se sabe, mas o governo Português já recusou por várias vezes trabalhos arqueológicos, escavações ou até simples detectores de metais de entrarem no castelo de Tomar. O mesmo se passa com o túmulo de D. Afonso, apenas nos últimos 10 anos foram recusados 3 pedidos para estudo das ossadas e até um simples raio X ao sepúlcro. Que segredos estarão ainda guardados?