2015-12-09

Vinte e cinco porcento

(Eu queria ter feito uma piadola com o título, tipo "we are the 25%", mas não me ocorreu mais nada sequer menos mau, por isso, vai mesmo assim...)

Às tantas, o melhor é começar por recordar os meus estimados colegas e amigos que conheci a maior parte de vós num ou noutro curso de engenharia, o que nos imbuíu com habilidades matemáticas um ou dois furos acima dos comuns mortais.

Então hoje, ia eu às compras, quando fui abordado por uma menina (ou talvez uma jovem senhora). Invariavelmente, não foi o meu charme nem a minha queixada hirsuta que a atraíram, mas antes a vontade dela de me vender um cartão de crédito. Vulgar. Banal.

Como é hábito dos vendedores, ela quis exultar as virtudes do produto, entre as quais, que, em certas marcas, o cartão oferecia um desconto até 25%. (Antes de mais nada, deixem-me salientar que, com esta história do até se ludibria muita gente. Eu conheço, pessoalmente, clientes da MEO que estão a pagar um balúrdio por "até 50 Mbps de Internet", de onde tiram, num dia bom, 7 Mbps, mas não podem sequer denunciar o contrato por incumprimento da outra parte porque 7 é menos que 50*). E, para reforçar a pujança deste argumento, deu-me um exemplo prático:

"Se comprar um frigorífico da Samsung, que é coisa para custar uns 450 Euros, tem logo um desconto de, para aí, 90 Euros."

Eu confesso que, até aqui, não estava a prestar grande atenção (é que eu já tenho mais um cartão de crédito que os que uso, e outro só vem estorvar), mas esta calinada acordou-me. Desculpei-me e pedi-lhe que se repetisse, e ela gaguejou por uns momentos enquanto tentava calcular 25% de 450 de cabeça até que voltou a cair na casa dos 90. Salientei que 25% de 450 são 112.5, ao que ela me respondeu que não era de matemática nem de ciências, mas antes de Direito.

(A propósito, as engenharias contam como ciências? Eu fico tentado a dizer que sim, que é preciso enveredar pelas ciências logo no 10º ano para se chegar a engenheiro, mas, com o barulho que a malta de Física, indubitavelmente uma ciência, fazia quando os confundiam com a malta de Engenharia Física, fico sem saber ao certo...)

Mas, profissões aparte, será pedir muito que toda a gente saiba de caras que 25% de "quatrocentos e tal" não pode nunca ser menos de 100? Ainda mais, quando se está a querer vender um produto, julgo eu, deve-se pensar bem no que se vai dizer antes de abrir a boca (claro que eu sou supeito de falar, já que, quando era delegado comercial, pensava sempre muito bem nas contas antes de falar de números, mas nunca vendi nada). Está bem que eu tenho tendência a julgar toda a gente pelos mesmos padrões por que me julgo a mim e aos meus pares (vós), mas, mesmo assim, isto é o tipo de asneira que, se eu a tivesse feito na 4ª classe, me teria auferido uma valente reguada em plena palma direita.

Se calhar sou eu que estou errado, e fazer contas de cabeça é domínio exclusivo de marrões e totós, nunca de quem vende cartões de crédito vestindo um casaco de 300 Euros (que, não tive coragem de lhe dizer, nem que o Armagedão destruísse todos os outros casacos que existem valeria tal montante)...

Enfim...

Pax vobiscum atque vale.

* OK, se calhar fiz esta conta demasiado depressa. Se há algum advogado a ler isto, lembre-se que, quando se conta até 50, primeiro conta-se até 7 e depois continua-se. Se me quiser processar por difamação contra a sua profissão, eu moro no nº 7 da minha rua; depois de passar o nº 50, é uma mão cheia de portas à frente.

1 comment:

Peres said...

Nunca nos esquecendo:

Dizia Guterres: “Desejavelmente, nós deveríamos poder atingir, num prazo tão curto quanto possível, um nível da ordem dos 6% do Produto Interno Bruto em despesa de saúde.”

Perguntou-lhe Ricardo Costa, repórter da SIC: “Isso é quanto, em dinheiro?”

De novo Guterres: “Eh… são… o Produto Interno Bruto são cerca de três mil milhões de contos… portanto, seis por cento… seis por cento de três mil milhões… eh… seis vezes três dezoito… eh… um milhão e… um milhão e… ou melhor… enfim, é fazer a conta.”