2012-03-21

Do fim de "Ibn-Arrik, El Bortukali"

"Ibn-Arrik, El Bortukali"

Era assim conhecido por seus inimigos. Ibn-Arrik - Filho de Henrique, El Bortukali - o Português.



Podia dedicar-lhe uma dúzia de posts e mesmo assim não conseguiria enumerar todos os seus feitos. Em vez disso, escrevo sobre o seu "eclipse", que já aqui referi algumas vezes, e exponho a traição de que foi alvo.

1169
Depois de 2 anos de preparação, a ponta da lança Portuguesa, o já vosso conhecido Geraldo Geraldes assalta Badajoz numa acção relâmpago e consegue capturar as muralhas exteriores da fabulosa praça forte muçulmana. Infelizmente os infiéis conseguem retirar para a alcáçova, e Geraldo, já sem o elemento surpresa é forçado a iniciar um penoso cerco.

Entretanto Afonso e seu exército chegam e reforçam a posição de Geraldo, pouco acostumado à quietude de um cerco clássico, mas duas notícias preocupam os Portugueses:
-Reforços mouros vindos de marrocos que já se encontravam perto de Sevilha
-Fernando II de Leão que marchava para Badajoz

Incrível que a pior destas duas notícias sejam a chegada de Fernando II.

Fernando II, rei de Leão e casado com a filha de Afonso Henriques tinha a ambição de reaver as terras Portuguesas e impedir expansões Portuguesas futuras, mas nada fazia prever tamanha jogada como a do desastre de Badajoz. Apanhando os Portugueses a executar um cerco, Fernando II ordena o ataque e os árabes, aproveitando o momento, executam um audaz assalto contra os sitiantes. Resultado: Um exército portugês apanhado entre a bigorna e o martelo...

As baixas são incrivelmente altas para o exército Português, mas pior ainda, Afonso é terrivelmente ferido na perna e capturado por Fernando II, que o mantém prisioneiro durante 2 meses.



Nesse tempo, obriga Afonso a devolver todos os Castelos tomados na Galiza, e várias posses no Alentejo. Mas mais, não libertou Afonso sem este lhe prometer que "assim que volte a andar a cavalo, se apresente a Fernando, onde quer que ele estivesse, e lhe jurasse vassalagem" acabando assim com o sonho da independência de Portugal.

Teria sido este o fim do sonho Português com um outro Rei menor, mas não com Afonso. Dizem as crónicas da época:
"«El-rei D. Afonso tornou-se pera sua terra e, despois, nunca cavalgou em besta por nom haver razom de tornar à menagem. E sempre se des ali em diante fez trager em andas e em colos de homens. E assi andou toda sua vida.»"

Tinha sofrido uma ferida atroz? Sim. Tinha devolvido territórios? Sim. Prometido vassalagem? Até que talvez sim. Mas derrotado? Longe disso. Afonso não voltou a montar um cavalo depois de Badajoz, por "não haver razão de retornar à luta".

Vejam... não é que faltassem terras para conquistar ou mouros (ou até reis católicos...) para batalhar, mas Afonso tinha prometido vassalagem assim que pudesse voltar a andar a cavalo. Em vez disso, coloca o seu filho Sancho a liderar os exércitos no esforço de Guerra, e ignorando os números dos infiéis, ou até desígnios de Leão e Castela, transforma a sua tragédia em benefício de seus súbditos. Morre, não como viveu, mas colocando sempre o benefício de um País à frente de desejos imediatos ou até mesmo de orgulho pessoal.

2012-03-19

Gualdim Pais, o vulto por detrás de um Rei



Gualdim Pais. Que figura histórica poderia ser ao mesmo tempo igualar os feitos de Geraldo, o Sem Pavor e ser tão o seu oposto?

Nascido em 1118 no seio da nobreza minhota e 9 anos depois do nascimento de Afonso Henriques, seguiu desde cedo o jovem. Não se conhece Gualdim Pais como sendo um homem incrivelmente corpulento (ao contrário de Afonso, a acreditar nos escritos), nem como sendo um grande estratega, filósofo ou poeta. É armado cavaleiro em 1139, com 21 anos e os próximos 10 são passados na sombra de Afonso Henriques. Talvez por isso, Gualdim Pais decide partir numa Cruzada para a Palestina.

Aí, junta-se à ordem dos pobres cavaleiros de Cristo, também conhecida como ordem dos templários e o que se passa depois está perdido para a história. Em 5 anos de cercos e combates, Gualdim sobe incrivelmente rápido na hierarquia da ordem, ao ponto de a quando o seu regresso a Portugal trazer consigo várias relíquias da Palestina.



Chega a Portugal mudado. Seus homens tinham uma fé inabalável nas suas capacidades, e a sua habilidade de mobilizar aldeias e vilas inteiras para combater os Mouros não tinha par. Afonso depressa vê o seu potencial, e lhe oferece terras na área de Sintra.

Mas Gualdim não fica por aí, consegue terras por todo o país usando a sua influência e fundos quase inesgotáveis. Edifica castelos em Almourol, Penarroias, Longroiva, Ozêzer, Cardiga, Pombal, Ega, Redinha, Idanha-a-Velha, Monsanto, mas mais importante, e em 1160, Thomar (Tomar). Ao mesmo tempo, os templários de Gualdim estão presentes na linha da frente onde quer que haja combates com infiéis, e é nos anos em que Geraldo lidera a ofensiva que Gualdim trabalha, mais uma vez na sombra, a edificar fortificações e cidades.

É no contra-ataque mouro de 1190, onde o grande Rei Abu Yacub Al-Mansur lida as tropas Marroquinas e derrota inclusivé o rei de Castela que Gualdim, já com 72 anos de idade mostra o fruto do seu labor. São as suas praças fortificadas que impedem o grande Rei de avançar com o grosso do exército para além do Tejo, mas mais importante acontece no cerco de Tomar.

Tomar era na altura pouco mais que um vilarejo, mas a fortificação que os Templários estavam a erguer à sua volta ameaçava tornar a vila numa praça forte e num espinho pronto a ferir o flanco de qualquer avanço mouro no futuro. É por isso que Abu Yacub Al-Mansur manda 900 dos seus melhores a cavalo para saquear e destruir Tomar.

Cercados e com a ameaça de morte pela fome, sem hipótese de receberem reforços nem de usarem as suas montadas para a tão clássica carga a cavalo a que estavam habituados, Gualdim ordena o impensável: "Abram os portões".

Não chegavam a 200 templários, famintos e sequiosos, encabeçados por Gualdim, um velho de 72 anos. E no entanto, aí estavam, de portões escancarados a desafiarem o avanço de 900 dos melhores que os infiéis tinham para oferecer. Reza a história que no momento em que espada se cruzou com sabre os templários de Gualdim gritaram "Non nobis, Domine, non nobis, sed nomini Tuo da gloriam" (Não por nós Senhor, não por nós, mas pela tua Glória) e verdade é que a mortandade foi tanta que desde esse dia as portas de Tomar ficaram conhecidas como "Portas do sangue".



Sangue infiél, pois a história só reza dos bravos 200 que derrotaram a hoste invasora, e ainda hoje Tomar se ergue, dentro de fora de muralhas. Gualdim Pais morre aos 77 anos de idade, a mesma idade com que Afonso tinha falecido, 9 anos antes, mas atrevo-me a dizer que ainda hoje o seu vulto segue os destinos do País.

2012-03-17

Geraldo Geraldes, o Sem Pavor



Introdução:
Há mais de 4000 anos atrás, uma tribo celta funda no alentejo uma pequena aldeia de nome desconhecido. Com planícies férteis a toda a sua volta mostrou-se como o local ideal para se poder prosperar em pleno alentejo. Milénios passam, e no século II a.C, Sertório, o Romano, dá-lhe o nome de Liberalitas Julia. Depois da guerra civil Romana, é conquistada por Décimo Júlio Bruto, tomando o nome de Ebora Cerealis tal não era a fertilidade dos campos circundantes (até a cidade é devotada à deusa da caça e fertilidade). O império romano cai, e em 711 é conquistada pelo mouro Tariq e fica séculos sob jugo àrabe, donde toma o nome de...

Yeborah

Yeborah:
E Yeborah continou, mesmo contra a vontade de Afonso, o Conquistador, primeiro rei de Portugal. Em luta pelos domínios alentejanos, Afonso é derrotado em 1169 e para além de perder 6000 de 15000 homens é ele próprio derrubado do cavalo onde depois sofre de uma terrível ferida provocada por uma maça de guerra moura, que lhe esmaga a perna...


Muitos dos ganhos de Afonso foram então perdidos, e apenas não o foram permanentemente por causa de homens como Geraldo Geraldes. Pouco se sabe sobre suas origens. Alguns dizem que era um nobre do norte do País, outros dizem que era apenas um criminoso e arruaceiro moçarabe (cristão que nasceu já sob o jugo árabe), mas a verdade é que nos anos após a derrota de Afonso, Geraldo espalhou o terror pelo Alentejo, salteando, roubando e criando o caos em território Mouro. Talvez devido ao ferimento, ou talvez à "lua de mel" com a sua 3ª mulher, os anos depois de 1969 foram o "eclipse" de D. Afonso.

Diz-se que Geraldo e seus fora da lei construíram um pequeno castelo, escondido entre arvoredo e rocha, e de tal difícil acesso que permanecia desconhecido aos infiéis. Conta a história que Geraldo trepou ele próprio os muros de Évora(Yeborah) a abrigo da noite, mata os guardas dos portões, e introduz o seu bando de arruaceiros em Évora. No próximo dia, executa o governador mouro, saqueia a cidade e envia um quinto do espólio a D. Afonso.

É claro, D. Afonso dá o título de cavaleiro a Geraldo, e Geraldo retribuí. Conquista Évora, Serpa, Alconchel, Montachês, Cáceres, Juromenha e até Badajoz, oferecendo sempre as cidades conquistadas a Afonso, rei algures lá no norte.


É então que acontece o impensável, Geraldo e seu bando vão a Sevilha, em frente do próprio Califa e oferece as suas armas aos mouros. Afonso escreve para todos os territórios Portugueses, ordenando a morte de Geraldo caso volte a por pé em terras lusas, mas, sabendo da forma como Geraldo fazia guerra, envia em segredo uma carta rogando-lhe que fugisse, e oferecendo até reforços militares para salvaguardar o seu regresso.

Geraldo ignora os avisos, e a abrigo do Califa desloca-se até Ceuta, o coração das rotas mercantes e porto de onde todos os mouros faziam a travessia de África até à Península. Aí Geraldo escreve carta para Afonso, para que ataque Ceuta, que ele e seus homens garantem os portões abertos e muito caos entre os defensores. Teria sido uma conquista digna de todos os livros de história, mas o destino quis que esta carta fosse interceptada, e Geraldo e seus homens morreram ali, longe da Portugal. Não há canções a cantar o seu valor, e nenhumas linhas nos livros de história, mas verdade é que todos nós devemos um pouco a Geraldo, o sem Pavor.

2012-03-06

Spoilers

Segundo este estudo, spoilers não afectam o desfrutar de uma boa história. Dito isto:



- Jesus não morreu realmente, ele volta na próximo capítulo.
- Os alemães perdem
- Darth vader é de facto o pai do Luke
- Bruce Willis estava morto desde o início
- Brad Pit e Edward Norton são a mesma pessoa
- O tubarão morre
- Os gregos estavam dentro do cavalo de madeira
- O ned morre

Phew, tinha estes atravessados. Alguém quer adicionar algum?

2012-03-05

Simpsons are coming

Ser Homer of Springfell, Margery, Ser Bart the bold, King Burns-baratheon second of his name e muito muitos mais, a não perder.


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2012-03-03

Queda de Bizâncio, parte 1

Não se pode dizer que o império romano tenha deixado uma marca ligeira na europa. Antes pelo contrário, aquilo que hoje chamamos de europeus e cultura europeia é ainda o que resta da influência do império romano. Como sabem, a queda do império romano marca o início um período de retrocesso conhecido por "dark ages". Os povos europeus dividiram-se em pequenos feudos e lutavam entre si enquando o médio oriente e norte de áfrica prosperavam em todas as áreas.

Mas aqui se gera um mal entendido. O império romano não acabou efectivamente quando a dark age europeia começa. O império romano estava já no século V dividido, em ocidente e oriente, um com capital em Roma, e outro em Constantinopla. É sobre este império romano do oriente que gostava de dedicar este post.


Embora na época fosse conhecido como "Império Romano", ele chega aos nossos dias como "Império Bizantino", e acabou apenas em 1453. A sua capital, Constantinopla albergava mais de 500.000 pessoas, o que fazia das cidades europeias da altura meras vilas desabitadas. Com 3 filas de muralhas reforçadas, e sendo o grande ponto de passagem para qualquer caravana ou peregrino que se dirigisse para a Ásia era uma cidade ao mesmo tempo próspera e inexpugnável.


O que acontece ao longo de quase 400 anos entre 1071 e 1453 é uma verdadeira tragédia que moldou o futuro da Europa.

1071 - Manzikert
Os turcos do império Seljúcida há muito tempo que testavam as fronteiras do império bizantino, e não esquecer que Bizâncio era na época a única coisa que impedia o expansionismo àrabe de chegar aos fragmentados reis católicos da europa.
É nesta data que o próprio imperador Romanos IV Diogenes lidera um exército de 70.000 contra 30.000 turcos liderados por Alp Arslan. A batalha é um desastre.
Os bizantinos, dispostos numa formação clássica em 4 "blocos", e organizados em centro, flanco esquerdo, flanco direito, e reservas esperavam uma batalha fácil. Os turcos, dispostos numa formação de meia lua e com grande parte do exército composto por arqueiros, apenas tinha de recuar sempre que os bizantinos tentavam apróximar distância, enquanto os outros flancos da meia lua faziam choviam flechas entre os inimigos.



Quando o imperado é forçado a recuar o centro sob a chuva de flechas, o flanco direito não percebe a ordem e em vez disso avança. Quando vê o resto do exército a recuar pensa ter sido traído e são desbaratados pelos turcos. A retaguarda dos bizantinos, em vez de cobrir o recuo do exército, foge para o acampamento, deixando o flanco esquerdo sozinho contra uma hoste de turcos.
O centro do exército bizântino é depois cercado, e o Imperador Romanos IV Diogenes capturado com vida. O que se passa depois é material de lendas. Quando Romanos é levado à presença de Alp Arslan, o seguinte diálogo acontece:
Alp Arslan: O que farias se eu fosse levado perante ti como prisioneiro?
Romanos: Provavelmente matava-te, ou talvez te exibisse primeiro pelas ruas de Constantinopla.
Alp Arslan: Vou-te fazer pior. Eu perdoo-te, e dou-te a liberdade.
Alp Arslan não podia estar mais perto da verdade. Romanos volta a Constantinopla humilhado e derrotado, é deposto como Imperador, arrancam-lhe os olhos e fazem-no andar pelas ruas de Constantinopla atado a um burro. Os próximos 400 anos são marcados por lutas de poder interno, guerras civis, maus imperadores e em pouco tempo Bizâncio perde todos os seus territórios asiáticos