No r/Portugal (ainda nao sabem o que eh o reddit??) houve um topico acerca da televisao portuguesa, e achei bue pertinente um dos comentarios:
"É a TV que temos. É uma merda e espero sinceramente que a história da TDT venha acrescentar alguns canais a isto mas estamos a falar de 3.5 canais que dão exactamente a mesma programação, o público apenas escolhe qual o veneno.
Querem gente sem grande entusiasmo mas algum carisma? RTP.
Fofoca e escandaleira? SIC.
Ignorância e paneleirice? TVI.
Não me levem a mal, mas sempre achei piada ao facto da TVI, que começou por ser da igreja, sempre ter sido a mais progressiva no que diz respeito à homossexualidade. Infelizmente só lá metem bichas como o Trouxa e o Castelo Branco que acho que não retratam o cidadão normal que calha a gostar do mesmo sexo, pelo menos não aqueles que conheço. Carlos Casto era a coqueluche da SIC mas apenas a excepção que confirma a regra.
Acrescente-se muito futebol. Não há nada para dar? Futebol. Não há jogo nenhum? Tem que haver, nem que seja duas equipas de júniores de um qualquer lugar perdido no meio do nada.
No caso raro de não haver trata de espetar com uma grande gala sem justificação ou com um qualquer especial em directo dedicado a qualquer coisa que não tem interesse. Que é isto? Gala dos XX anos de YY? Isto estava programado? Quem é o tipo?
Explicando os 3.5 canais: Temos 3 camadas de verniz passadas por cima da mesma prancha de madeira. Cada um escolhe a cor que prefere mas estamos a construir mobília com a mesma madeira prensada de fraca qualidade folheada a material dúbio. Mais cedo ou mais tarde percebemos que estamos a perder com a poupança que fizemos e que devíamos ter investido em madeira melhor. Essencialmente a mesma coisa que com os partidos políticos que temos.
Depois temos a 2. O verniz é de uma marca que conhecemos mas a madeira é melhor. O problema é que não lhe fazem publicidade, é o tesouro escondido e em parte porque não há procura. A fofoca é mais interessante que a cultura, a foleirada importada e refeita para ser "nacional" é melhor que aquilo que é estrangeiro mas com algum valor e a conversa morna ajuda os reformados a adormecer melhor nos lares que as séries que fazem a cabeça funcionar.
E queixam-se das notícias? As notícias são apenas o essencial para manter o estatuto de fornecedor de informação. A informação que passa nelas é filtrada pela equipa editorial não só por motivos políticos mas pela audiência.
É o velho if it bleeds, it leads mas com um twist. Mostremos aquilo que vai invocar "coitadinho" ou "ai, faz-me tanta impressão". A seguir é o estritamente necessário de informação política (mas nada que coloque o público a pensar) ou então o escândalo da moda que, se for bem esticado, dá para uns bons meses (vai dar na mesma, vai é ficar esticado demais). A ideia aqui é invocar empatia, algo mais forte do que isso é mau. Podemos falar na menina de 5 anos (penso que era 5) mas a revolta na Grécia leva uma menção rápida e uma passagem ou duas no rodapé.
De seguida o futebol, pois, porque se fosse logo de início metade do público desligava a TV. Claro que tem-se que atirar um osso ao Tó Manel, ele tem que saber que o treinador do Spirting já era (apesar de já saber tudo pela rádio ou pelos jornais do café) mas falamos nisso durante 2 minutos logo na abertura do jornal e depois repetimos o mesmo durante cinco mais tarde. Chouriço enchido, siga. É importante notar que mesmo que o mundo esteja a assistir a um momento histórico o futebol tem que estar lá. 11 de Setembro? Passamos a emissão toda de volta disto, tal como passámos o dia desde que soubemos, mas temos que falar pelo menos nos três.
E, tal como metade desligava se o futebol viesse em primeiro lugar assim que acabasse essa secção, outra metade chegava a esta altura e já tinha também desligado a TV. Tem que haver algo que prenda até ao fim. Vamos meter as imagens fofinhas dos animais que nasceram no Zoo do outro lado do planeta, os factos informáticos que já se sabem há meses. É o que eu chamo os cinco minutos do Slowpoke, algo do género de: A Apple anunciou recentemente vai lançar um novo produto. Chama-se iPod, sim, com letra minúscula e permite ouvir música num novo formato chamado MP3. O ano de 2012 promete tecnologicamente portanto todos aqueles que pretendem exibir-se com brinquedos que não sabem usar e para os quais têm que contrair um empréstimo só porque uma qualquer vedeta já os tem, já sabem.
Temos uma população extremamente envelhecida e aqueles, que como nós, sabem usar a Internet já largaram a TV pública há muito tempo quer para informação, quer para entretenimento. Nós estamos perfeitamente informados. Nós sabemos que o Passos Coelho não fez nada antes de acabar o curso universitário aos 37 anos e que assim que o acabou foi logo administrador à pala de um amigo que o patrocinou e que essencialmente o colocou onde está hoje para servir os seus interesses. Isto não passa na TV e por um motivo muito simples. O público alvo não quer saber, têm aquilo que querem, que sempre tiveram desde o Estado Novo e mudar algo é um choque demasiado forte.
Eu tenho bocados em que me questiono como é que houve uma revolução mas depois lembro-me que a única coisa que mudou para o cidadão comum foi pelo menos poder queixar-se em voz alta.
Sim, hipérbole."
1 comment:
As mudanças não ficaram por aí. Ouve tempos em que quando alguém era revelado como corrupto, ladrão ou vigarista, até nas altas esferas da sociedade, isso significava uma enorme vergonha e era motivo para tumultos, perca de terras e títulos, e por vezes até morte!
A mediatização e a globalização da notícia veio trazer também impunidade. Os casos de corrupção são diários, ao ponto de serem banais:
"Olha, o antigo primeiro ministro tem 250 milhões de euros na conta e foi para Paris estudar filosofia, que vilão, tsk tsk" *Muda de canal para o futebol
"Olha, a Fátima felgueiras limpou dinheiro da autarquia, fugiu para o brasil durante 4 anos, voltou, recandidatou-se à câmara de onde roubou dinheiro, tsk tsk, que vilã" *Muda de canal para a telenovela
E mais, a nossa civilização chegou ao ponto de "anestesia" em que tumultos, revoluções e protestos públicos são coisas muito chatas, só causam é incómodos e são geralmente os povos mais "bárbaros" que assim se manifestam.
Podia continuar a até chegar ao papel que a religião teve para chegarmos a esse ponto, mas isso fica para um post novo talvez
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