2011-05-15

Já não há profissionais

De certeza que se lembram que, nos anos 90, sobretudo, mas não só, "profissional" era uma divisa de qualidade e brio. E era em tudo. Havia os processador Pentium e havia os Pentium Pro. Mais tarde, quando surgiu o conceito de GPU, havia a placa gráfica Anihilator (eu tive uma) e depois havia a Anihilator Pro. Até na relojoaria mecânica havia truques desses: a Omega tinha (e tem) os Seamaster e Speedmaster e depois tem o Seamaster Professional (Pierce Brosnan) e o Speedmaster Professional (Michael Schumacher). Eu cheguei mesmo a conhecer um indivíduo que se gabava de tal maneira de tudo o que tinha com o sufixo "profissional" que se dizia dele que a marca da televisão da família dele (isto era uma altura em que havia uma televisão por família e ver televisão era uma actividade familiar) era "Profissional".

Que é feito disso?

Há semanas fui à Worten (digo sempre que nunca lá Worto, mas, depois...) e demoeri-me a olhar para um telemóvel LG com dois processadores e SO Android 2.2. Veio logo uma menina com uma t-shirt da LG e um pendurico com o nome dela tentar vender-mo. Comentei que o 'droid estava parecido com o iOS (não conheço bem os telemóveis com o Android, e ainda menos as diferentes versões do Android, mas aquele era mais que vagamente inspirado no iOS; era cópia quase directa) e, de resposta, recebi um olhar vazio e "não sei o que isso seja". Aparentemente, para vender telemóveis não é preciso conhecer os telemóveis actualmente disponíveis.

Mais recentemente quis comprar uma escova de cabelo. Sucede que, durante 25 anos, usei quase exclusivamente pentes e não sei rigorosamente nada acerca de escovas, por isso pedi ajuda à menina da loja (são sempre meninas que trabalham em lojas...). Ela não me soube explicar as diferenças funcionais entre cada uma da miríade de escovas que a loja tinha em exposição, salvo que uma delas evitava que o cabelo ficasse armado por causa da electricidade estática.

Vocês lembram-se de quando íamos a uma loja para comprar nem que fossem pregos e o indivíduo que nos atendia (nos pregos nem tanto, mas, muitas vezes, eram meninas como as das histórias acima e tudo) quase nem nos vendia os pregos a não ser que lhe disséssemos para que eram, ao certo, os pregos e nos sabia recomendar exactamente os pregos de que precisávamos?

Qualquer dia, há de se poder ensinar matremática sem se saber o que é uma raíz quadrada. Mas já ninguém tem brio em saber fazer bem o que lhe pagam para fazer?

Pax vobiscum atque vale.

9 comments:

Sintra said...

nop, eu so cheguei a Portugal em 2000 :P
raramente ia as compras

mais, eu nunca me penteei, nem nunca me preocupei com telemoveis
a minha mae qd eu era mais puto tentava as vezes pentear-me o cabelo, mas era rijo e misturado c o facto de eu inevitavelmente andar no meio dos arbustos, ou em cima das arvores, ou simplesmente a correr o q produzia imenso suor, n dava pra segurar o cabelo
qt a telemoveis, quero uma merda q faca chamadas e mande sms, o resto tou-me a cagar

Jamex said...

"para vender telemóveis não é preciso conhecer os telemóveis actualmente disponíveis"

Homem que é homem olhava para as mamas da menina e para as pernocas da menina e comprava do dito coiso só pelo embaraço da namorada chegar e perguntar:
"Estas a olhar para onde?"

É assim que as vendas funcionam meu :P

Peres said...

Aconteceu-me semelhante na worten no outro dia. Fui procurar por um cabo série rs232, e a moça só diz "não sei o que isso é". Falo depois num cabo de 9 pinos, ao que oiço "Ai, não sei, tudo o que temos de cabos está exposto ali", apontando para os cabos de televisão... Lá tive eu de ir á secção de informática por mim procurar o cabo.

Por outro lado, conheço uma lojinha, uma drogaria, em que o os donos é um casal idoso. Tão a ver, daquelas lojas em que se peço 15 metros de cabo o senhor saca da régua de madeira que já tem os numeros gastos, e mede 15 vezes o cabo. Aí sim, sempre que é preciso reparar alguma coisa lá em casa o senhor sugere o que pode ser melhor, mostra vários modelos, discute preços. Não têm muito movimento, mas quando preciso de algo que ele tenha, nem penso a ir a outro lado.

Peres said...

PS: Acabei por não encontrar cabo série na Worten.

Nem na Staples.

Nem na rádio popular.

Nem na MediaMarkt.

Só o encontrei na Box, maldito usb anda a tomar conta de tudo.

Sintra said...

comprasses usb-to-rs232, coisa q eu usei a electronica4 :P

Peres said...

Nao havia em nenhuma das lojas Sintra, bem procurei.

Sintra said...

pois tbm me recordo desse problema; teve q se mandar vir pela net ou o crl

Saurnil said...

Nas grandes superficies comerciais, dá-me pena que para vender baste ser simpático e se tenha o munimo de padroes de beleza, e só lá de x em qdo é que há chamam um tipo que lhes parece que perceba mais do assunto, mas só depois de passarmos pela cara laroca. Não tenho nada contra caras larocas, mas quando vou às compras espero que tenham um mínimo de conhecimento da área, a beleza é irrelevante. A beleza e a simpatia são sobrevalorizadas, e pior, são características indirectas: alguém que tem paixão pelo material que se disponibiliza a vender, conhece-o muito bem, o material que já não se usa e até o que virá a substituir o actual, sem tentar vender, mas informar o cliente como se recomendasse um bom amigo. O esforço na honestidade nota-se, e leva à fidelização de clientes, e aumenta o sentimento de pertença a uma comunidade, em que cada um tem a sua função óptima. A drogaria de que o Peres fala é um bom exemplo disso.

Peres said...

E também porque ninguém queria estar nesta situação, certo?:
http://www.boomclips.com/videos.aspx/video~hot_cashier_prank/Hot_Cashier_Prank/Funny_videos/