2010-02-11

Parvoíces Suíças e design automóvel... coisa

Antes de mais: não sou entendido ou sequer fã de automóveis (excepção feita a Aston Martins e certos Jaguars) ou de motociclos (excepção feita a rigorosamente nada de que me lembre assim de repente). Posto isto...

Há bem mais de 10 anos, talvez nas voltas de '96 ou '97, quando o ano podia ser escrito com dois algarismos, se bem que não sem que alguém gritasse de pânico perante a ameaça do bug do milénio, ou, como os maníacos das abreviaturas (muitos dos quais, hoje, são engenheiros, alguns dos quais, à semelhança do que já eram), o ipslon-dois-capa, tive um sonho estranho. Como ouvir falar dos sonhos das outras pessoas é marginalmente menos maçador que ler acerca dos sonhos das outras pessoas e porque já não me lembro de peva de um sonho que tive há mais de uma década (tenham dó, eu sou só aí cinco sextos maluco), só queria aqui mencionar, faxavor, um elemento de que me não esqueci: um veículo como nada que eu tivesse visto até então.

Podia descrevê-lo como uma mota, mas de quatro dodas, ou, por outras, um carro extremamente estreito com uma configuração de rodas invulgar: uma à frente, uma atrás e uma de cada lado, mais ou menos a meio do comprimento do veículo. Tratava-se de um veículo com carroçaria fechada e assentos (se calhar era só um. Sonhei-me na perspectiva do condutor e não me lembrei de olhar para trás. À frente só havia um) com encosto, à semelhança de um carro, mas com as dimensões de uma mota (mais ou menos) e um sistema de controlo de direcção semelhante ao de absolutamente nada (que eu conheça): espaços nos painés laterais dos interiores permitiam tocar em superfícies que, aquando da aplicação de pressão dirigiam o veículo para o lado correspondente. Claro que isto levanta, imediatamente, algumas questões pertinentes: Como é para abrir as portas, já que, ainda que só haja uma, está ligada ao sistema de direcção; como é que o sistema há de saber quanto virar, já que estou a dizer só para que lado há de virar; então e se o condutor decidir tentar virar para os dois lados ao mesmo tempo (não tentem isto num veículo convencional. Eu não conduzo, mas estou convencido de que é extremamente difícil), entre outras, mas, se não têm nada melhor para fazer que questionar os sonhos de um puto de 12 anos, arranjem uma vida ou uma tese de mestrado (ou ambas, mas, mais uma vez, pode não ser fácil). A carroçaria era mais ou menos em forma de cápsula de gelatina, como as que se tomam por receita médica (ou sem ela, dependendo do que contêm), mas curva, mais baixa nas extremidades que no meio. Quando, anos mais tarde, soube que num filme que eu, à data, desconhecia por completo, chamado Tron, para os que ainda não se aperceberam, havia veículos semelhantes, fartei-me de rir. Por dentro.

Entrem os Suíços. Um de cada vez e não podem ser todos, senão não cabem no blog. Portanto, hoje, só os da companhia Peraves AG. Estes senhores desde 1985 (perdão, de '85) que andam a fazer umas coisas estranhas chamadas ECO MOBILE.



IMO, feio como o caraças. No ângulo particular desta fotografia, pode parecer que os dois assentos são lado a lado, mas, na verdade, são um atrás do outro. E este modelo não tem uma "barbatana" vertical na traseira, que deve ser um excelente catavento.

O modelo base, com coisa de 3.7 metros de comprimento, 1.5 metros de altura e outro tanto de largura (mais alguém está a pensar na palavra "supositório"?) pesava 440 Kg, tinha um depósito de combustível de 47 litros, 90 cavalos, 6.2 segundos dos 0 aos 100 Km/h e chegava aos 240 Km/h.

Como ainda se devem estar a rir da ideia de uma mota com rodinhas, convém aqui explicar (faxavor) que as ditas se retraem para cima e para dentro quase totalmente quando o veículo está em andamento, e servem, em primeiro lugar, como substituto da peça favorita de qualquer mota dos alentejanos, o descanço (as minhas desculpas aos alentejanos que sabem reconhecer uma piada e os meus gestos feios aos que não sabem) e também para evitar que o veículo caia de lado numa curva quando o condutor quiser inclinar-se demasiado.

Mais recentemente, os mesmos senhores (e senhoras, presumivelmente) tiveram outra ideia: o MONO TRACER



Como podem ver, este é mais bonito, mas ainda não é nenhum Aston Martin DB9 ou sequer algum Jaguar XJK e muito menos um Jaguar E-type de '72. As rodinhas permanecem e permitem ao estranho híbrido de uma mota com o que parece ter sido, nos seus dias áureos, talvez um Lexus (digo eu...) inclinar-se até aos 52º nas curvas.

Agora cinco centímetros mais curto, coisa de vinte e cinco centímetros mais estreito e com mais ou menos a mesma altura, este modelo debita 130 cavalos, vai dos 0 aos 100 Km/h em 5.7 segundos e afirma ultrapassar os 250 Km/h.

A marca anuncia este produto como um veículo de luxo, o meio termo entre uma "superbike" e um carro desportivo de luxo. Não conseguem dizer duas frases acerca do MONO TRACER sem mencionarem o Porsche 911 (por favor não perguntem porquê) e parecem convencidos (ou, pelo menos, determinados a convencer-nos) de que isto é a mota ideal para o que eles descrevem quase ilidicamente, sem, no entanto, conseguir escapar à dura realidade de que é um homem em plena crise de meia idade.

Olhemos mais de perto: No interior, temos botões para controlar a caixa de velocidades no punho esquerdo do guiador de mota com o qual se guia esta máquina bizarra, um acelerador convencional de mota no direito e pedais para a embraiagem e para o travão. Meus caros, desenhastes um veículo com um assento com encosto ergonómico e cintos de segurança de três pontos; parai, por favor a vós mesmos, de vos tentar convencer de que a experiência de condução pode ser como a de uma mota. Convenhamos que já é tarde para isso. Dêem cá um volante e mesmo uma caixa de velocidades sequencial com as pazinhas que o Jeremy Clarkson detesta; ele não ia gostar disto e não, portanto não têm nada a perder.

A seguir: A porta abre para cima. A melhor descrição que vos posso dar é remeter-vos para os veículos da polícia de San Angeles do filme Demolition Man, de 1993, com Sylvester Stallone, Sandra Bullock e Wesley Snipes nos principais papés, com a devida distinção de que, neste caso, a capota faz parte da porta, não da porção fixa da carroçaria. Convém notar que a porta abre para a esquerda, e agora é que tenho mesmo que para e perguntar: porquê, deuses? Se queríeis portas com pinta e que abrissem sem ocupar grande espaço lateralmente, melhor não tínheis que olhar para os vossos vizinhos italianos, especificamente aqueles que, depois de se zangarem com a transmissão de um Ferrari, começaram a fazer carros desportivos com nomes de touros em vez de tractores (se restam dúvidas, Lamborghinis) ou os nossos amigos escandinavos, que, segundo consta, melhoraram essa ideia ligeira, mas significativamente no Koenigsegg (pronuncia-se "Có-nig-zeg") CCX. E sobretudo por que raio é que a porta abre para a esquerda? No Suíça, como na maior parte do mundo, o passeio fica à direita do condutor. Não tendo um lugar do passageiro entre um condutor que se quer tornar peão e o passeio (ou, por outro lado, um peão com vontade de conduzir e um assento adequado), por que raio não há de a porta abrir para a direita? Não se preocupem que os ingleses não fazem a menor tenção de conduzir esta geringonça bizarra (eles têm o Peel P-50, que faz as vezes. Google it) e os japoneses têm coisas muito mais bizarras com que se entreter (olá se têm!).

E agora, o preço: €52500.00 + IVA (+ Imposto de Valor Acrescentado Automóvel, para os portugas com a terrível ideia de tentarem comprar um madraço destes). É agora que vos ouço a dizer "Estás a gozar comigo!?", porque as paredes do meu apartamento são tão finas que ouço todas as discuções da minha lindíssima vizinha com o namorado. Faço notar que, por apenas um terço do preço de um Aston Martin DB9 novo estão a adquirir não só um objecto de aspecto insólito que consome menos de 5 L/100 Km a 90 Km/h (ok, reconheço que esta está bem conseguida, por parte do motor não híbrido de quatro cilindros em linha, 16 válvulas, 1171 cc da BMW. Na verdade, é menos que um Prius), mas também a garantia de que não serão feitos mais que 100 por ano. Aqui é que, acho eu, estes homens (e mulheres, presumivelmente) perderam a cabeça. Senhores, isto tem o potencial para ser um carro de cidade impecável. Com a mala de 200 litros, o consumo reduzido, as dimensões minúsculas e a brecagem fantástica de que vos gabais, isto é excelente para ir ao centro comercial com o filho que só se vê aos fins de semana ou a namorada que vamos deixar antes do fim do mês, estacionar no buraco ínfimo que nos calha no parque de estacionamento sem riscar a pintura do nosso carro e dos de cinco outros à nossa volta, fazer compras para a semana e não gastar em gasolina os tostões que assim se poupam para a assinatura do rapidshare; mas não, tinheis que ter a ambição de fazer um veículo de luxo, com retoques de hibridez vindos das tripas de Satanás que custam os olhos da cara por estar recheado de idiotices de luxo como som surround para o rádio e GPS e alegados materiais da época aeronautica e espacial e a garantia de que não ides fazer mais que o que conseguiríes vender se todas as outras marcas subitamente decidissem deixar de construir automóvies e destruíssem todos os automóveis que algum dia tinham feito.

A cereja no topo do bolo: Leitor de CDs opcional. Ó minhas grandes bestas (os senhores, e, presumivelmente, senhoras da Peraves AG, naturalmente), mas ainda não percebestes que o que nos interessa realmente num auto-rádio é um interface para o nosso iPod/iPhone e, para os que preferem evitar pagar pelo desenho elegante dos produtos da Apple (afinal, para pagarem pela vossa carripana feia como os trovões...) uma porta USB para uma pen drive ou, quiçá, um SSD cheio de MP3s, WMAs e, eventualmente, M4As que não abane e se deixe interromper na reprodução por qualque solavanco na estrada ou qualquer grãozinho de poeira que estrague a leitura do disco!? Mas querem ver que só agora é que os anos 90 chegaram à Suiça? O carro do meu pai, que se não tem 10 anos está a fazê-los, traz um leitor de 6 CDs na mala de série, e vocês querem fazer crer que um leitor de CDs é digno de um extra!?

Muito obrigado, meus amigos helvéticos, por corromperem o meu sonho. Desejo-vos sinceramente que algo ligeiramente desagradável como que uma cebola vos caia na cabeça e também que vos sodomizeis a vós mesmos e uns aos outros com bastões retracteis. A marca ASP produz excelentes bastões de auto defesa, se bem que duvido que tenham sido concebidos para esse fim, mas que devem servir.

TL;DR: Não leiam isto, foi postado por um bot.

Pax vobiscum atque vale.

9 comments:

Sintra said...

loooooool
One man's rage is the other man's fun.
I fuckin LOL'D
:DDDDDD

ArabianShark said...

Ainda bem. Haja algum bem a vir deste desastre.

fakebot said...

You have been deemed hazardous. Will you comply?

ArabianShark said...

Francamente, não sei do que estás a falar, Fakey, mas compliance is not "mah thang".

Sintra said...

RESISTANCE IS FUTILE????

Zeca said...

como nota deixo: O novo Polo da VW consome menos de 4L/100Km (diesel claro - mas é uma carro a serio)... :3

Sintra said...

Reparei que com este excelente post, ja nao tenho que passar os olhos naquele artigo verde de roupa interior.
OBRIGADAO TUBARAO, BEM HAJAS!

fakebot said...

Sintra lies, his wallpaper has the green panties. So say we all.

Sintra said...

Haters hatin'.