Não raras vezes dou comigo a pensar se escrevo porque tal me preenche...ou se, pelo contrário, colocar pensamentos por palavras (actos e omissões - não resisti) é como puxar um autoclismo interior. Mas que se dane, a verdade (e ela existe?) é que me permite alhear da minha eterna odisseia de descoberta do meu lugar.
Mas vamos a isto, pois que sinto o metabolismo abrandar a cada letra. E uma vez mais vos proponho (caros irmãos - eu tenho de parar de gozar com os senhores da Cruz) um exercício, que, espero, se revele ainda mais capaz de mexer com as vossas entranhas (só para o caso do anterior não o ter feito) do que a questão da tristeza e da alegria. Companheiros de pensamentos demasiadamente intrincados para permitirem uma vida social razoavelmente fútil e, portanto - atendendo à sociedade de hoje - saudável: Existe...Bem e Mal?
Dizem os Pearl Jam - esses oráculos na Terra - o seguinte: "There's no right or wrong, but I'm sure there's Good and Bad" Thumbing My Way to Heaven, versículo 4, parágrafo 35. Da forma como eu o vejo, o verso indica-nos as intenções como o ponto de um acto a medir. Será correcto, este ponto de vista? Se, com a teoricamente melhor das intenções - amarmos alguém (num próximo post explicarei porque acho o amor e a paixão elementos com muito de nefasto) - prendermos essa pessoa em casa para que não se magoe...é correcto? Ou errado? E é um exemplo de prática do Bem? Ou do Mal? Seguindo a lógica Pearljamiana - soa-me a nome de droga... - é um acto Bom. Não interessa se a/o prisioneira/o por amor (obsessão!, grita o povo, e eu quase que grito com ele) é tocado pelo espectro da demência, por ter de conviver consigo mesmo e os seus pensamentos , cada vez mais livres das grilhetas - quem diria que podem ser saudáveis - da rotina e da sociedade. A intenção foi proteger o ser amado, e provavelmente não há melhor razão para um acto. Mas, e se um(a) outro/a apaixonado/a pela pessoa em causa se dá conta do trágico rumo que a vida desta tomou? Não terá ele razões para, digamos, matar (no mínimo umas costelas, convenhamos) o/a Romeu/Julieta del Cárcere? Afinal, trata-se do indivíduo responsável pelo boicote do futuro deste último apaixonado com a pessoa aprisionada.
Seguramente já deu pa perceber que é uma flor plena de espinhos, esta questão...por um lado, as intenções são extremamente importantes. De nada vale ajudar uma pessoa se a intenção é sermos nós a enterrar-lhe qualquer vontade de viver. Assim como não pode ser descurada a intenção de uma pessoa que causa problemas a outra ao tentar ajudá-la. Mas, vistos do lado das consequências, estes dois casos ficam completamente alterados.
Mais uma vez aguardo, na minha poltrona - útero de cada novo pensamento meu - os vossos pontos de vista. Porque, como já alguém dizia, a graça da vida é que passamos muito (demasiado) tempo a tentar entender, não só os actos de outros, mas também (estranho, não?) os nossos. Ide em Paz, e que a Força esteja convosco.
Ah, e não se esqueçam do que dizia Nietzsche: "Qualquer acto de amor está para além do Bem e do Mal." Por isso, apaixonem-se por tudo o que fazem. Só assim sairão de uma grande idiotice com a consciência limpa. Tanto quanto possível, pelo menos.
2005-06-30
Para variar...uma decisão fácil (ou não!)
O que proponho ao leitor é um simples exercício, avisando desde já - embora duvidando de tal ocorrência - que futuras depressões ou estados de prolongada contemplação derivados das conclusões deste post não são da responsabilidade do autor. Comecemos, então, pois que o nefasto tabaco ameaça, a cada momento, levar-me para mais longe de vós.
Tristeza...alegria. Dois antónimos. E duas palavras dotadas de uma bela particularidade...estão foneticamente em consonância com o seu significado. E o exercício é o seguinte: olhe o leitor para trás, para o seu passado. Não sendo os menores de 14 meses aconselhados a frequentar o Disco-Bar, tomo como como garantido que o leitor possui ambos os vocábulos em causa na sua experiência como ser humano. Mais ainda, que o leitor matutou e alcançou consciência (condição horripilante de esclarecimento - não raro em demasia) dessas suas experiências. Olhemos portanto para trás do ombro...e peço um olhar frio, essencialmente direccionado à estética e o mais distante possível dos sentimentos. E aqui vai:
agora que vê as coisas com outros olhos (isto é fundamental), de qual gosta mais? Da chuva de Outono no corpo nu que é a tristeza...ou do radioso dia de sol que é a alegria?
Pode ficar aqui a minha opinião...E ela está nas metáforas que empreguei. Um dia de sol radioso é algo capaz de reabilitar um coração mais amarfanhado que o capacete de um operário vitimado. São horas em que o astro rei faz juz a designação, e em que os instintos falam mais alto. Somos felizes, porque o céu é azul e está calor. Porque, no fundo, as coisas simples são o melhor da nossa vida, e perdoem-me o lugar comum.
Mas, e a tristeza? O Outono, cujas nuvens de vários matizes de cinzento falham, não raras vezes, em encobrir pedaços de azul...da felicidade simples que a nossa vida teve e parece ter perdido para todo o sempre? E a chuva casual que nos molha? E, se por acaso, estivermos nus, como referi na metáfora? Não é desagradável? Claro. Mas...não é belo? E não é também bela a noite tempestuosa? Ou a pessoa, envergando um casaco preto, que ondula ao gélido vento outonal e é tornado pesado pela chuva miúda, que parece posar para uma câmara que só ela vê, num precipício povoado por uma única árvore, tão despida de folhas como a pessoa de razões para sorrir? Não é uma imagem simples...não é uma imagem agradável, se nos imaginarmos no lugar desse indivíduo - ou mesmo da árvore, nua e sem capacidade para fugir à chuva, ao vento, e ao tecto de betão que as nuvens formam. Mas, esteticamente, é bela. Imaginem-se num quadro com esse tema. O céu ainda é escuro, mas o vento não é frio e a chuva não vos gela a pele. É uma cena muito mais poética e dada a interpretações que um simples céu azul...A diferença entre cada um dos meus textos é prova disso.
Quem está de alguma forma ligado a artes poderá (sublinho) ter mais facilidade neste exercício. Porque é inegável que são as fazes tristes as mais pródigas no fornecimento de temática e não só para as obras.
A tristeza é complicada, e muito melhor amante que a alegria, essa mulher de beleza simples mas enorme que nos cativa simplesmente porque nos lembramos dela. A tristeza é uma dama de negro que deita nas suas roupas perfumes inebriantes: melancolia, dor, confusão...é muito mais dedicada e protectora de cada marido que pretende devorar. O caminho para ela é cheio de descobertas que nos fascinam, e não raro de alegrias efémeras. E sempre a fêmea obscura surge quando nos separamos da alegria, acarinhando-nos e oferendo-nos a sua cama.
Não há duvidas sobre que estado preferimos. Mas os sentimentos nem sempre nos devem desviar de conclusões que parecem lógicas. Dêem-me as vossas. Um bem haja, esperando que actualmente partilhem o vosso leito com a alegria.
Subscribe to:
Posts (Atom)