Há já quase dois (2) anos que eu corajosamente me aventurei no território vicioso que é Londres de Sadiq Khan (e só veio a piorar desde então) e de lá resgatei um HTC Vive - e isso mudou a minha vida para sempre.
Ontem veio cá um senhor da UPS e deixou uma caixa branca em troca da minha assinatura:
Uma vez que não tenho espaço para usufruir da área de jogo alargada da nova versão, mandei vir só o HMD, que é indissociável da Link Box, e continuo a usar os comandos e os Lighthouses da versão anterior.
Portanto, vamos lá a comparar as duas versões:
A proverbial brochura anuncia, com grande pompa e circumstância, que o novo modelo é mais pequeno, mas, como podeis ver, não por muito. No entanto, a mesma brochura reclama que a distribuição do peso do novo HMD é tanto melhor que o aparelho parece mais leve de usar - e, realmente, tenho que concordar; o novo "capacete" parece, de facto, mais leve que o anterior. No entanto, ao passo que a versão original trazia uma tira (enfim, um pequeno arnês) de tecido elástico com que se segurar, a nova versão traz um suporte semi-rígido, o que resulta num aparelho aparentemente mais volumoso, apesar das suas dimensões (mais) reduzidas.
Ora, essa mesma tira semi-rígida, que se ajusta com um parafuso que a alarga ou retrai, em vez de empregar fechos de Velcro, como a anterior, é agora acolchoada e extremamente confortável. Como bónus, este aparato inclui auriculares articulados que, em princípio, devem servir a toda a gente que não tenha uma cabeça esquesita (por fora; por dentro podeis ser tão esquesitos quanto quiserdes que o HTC Vive Pro servir-vos-á igualmente bem). Estes mesmos auriculares, a princípio, fizeram-me torcer o nariz, habituado que estou a usar auriculares de silicone, mas que me rapidamente me convenceram; não só o som é melhor que o que eu esperava como também o conforto é surpreendente. Não primam, no entanto, pelo isolamento acústico que providenciam, e, por serem tão articulados, torna-se necessário acertá-los bem antes de começar a usar o dispositivo; caso contrário os cliques e estalidos das articulações a "descobrirem" a posição ideal chateiam um bocado.
Os écrans, de acordo com as especificações técnicas, são 0.1 polegadas mais pequenos que os da versão anterior, mas, em minha opinião, o mesmo não faz diferença. Diferença faz, sem dúvida, a resolução mais elevada, que finalmente permite ler as letras pequeninas em VR - e já não era sem tempo. Não é o fim definitivo do efeito de malha que o Vive original impunha à imagem, mas é certamente uma malha muito mais fininha. No lado negativo, à semelhança do que acontecia com o aparelho original, a peça que separa os dois écrans deixa-se corar pela luminosidade dos écrans, e surge visível no canto do olho, o que aborrece - talvez ter lá posto uma unha de Vantablack, HTC...
Em termos de conforto, o aparelho permite maior controlo sobre a distância interpupilar, permitindo precisar valores que a versão anterior abrangia, mas não especificava. Os écrans podem, tal como dantes, ser puxados à frente ou atrás. A máscara que assenta na cara é tão macia como a sua predecessora e, apesar das revindicações de que assenta na cara melhor, não encontrei grande melhoria nesse campo - o que, de mais a mais, não era particularmente necessário. A versão anterior, apesar de poder ser usada com óculos graduados, frequentemente mos "agarrava", tirando-mos da cara quando eu tirava o aparelho; já a nova versão parece ser mais acomodativa. Postos todos os melhoramentos juntos, o aparelho torna-se, de facto, mais confortável de usar por períodos mais alargados, mas, ao fim desse período, torna-se mais desconfortável mais depressa - ou seja, não excedam o limite recomendado, fazei pausas e, se vos sentirdes mal, jogai noutro dia (e todas essas coisas que a literal brochura diz). Direi, no entanto, em jeito de crítica, que, ainda menos que o modelo anterior, o novo não permite tê-lo colocado, mas puxado para cima, para comutar rapidamente entre a realidade virtual e a realidade chata em que estou fechado neste escritoriozeco minúsculo cá em casa com as paredes mal pintadas de cores estúpidas e mais a porcariada da tartaruguinha - mas que raio estava eu a pensar quando alugei este pardieiro!?
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(não liguem; é um efeito colateral frequente de se sair da Realidade Virtual; já passa...)
Ora, como eu dizia, nem o modelo anterior nem este permitem comutar rapidamente entre realidades, sendo incontornável o "tempo morto" de pegar no aparelho, ajustá-lo bem, apalpar em redor à procura dos comandos e pegar neles.
Confirmo igualmente que não detectei nenhuma quebra de performance em comparação com o modelo anterior, apesar de não ter mudado mais nada em termos de hardware - e o meu CPU é um Intel 2700K de 2011, ou seja, nada particularmente recente; tanto, aliás, que, em 2016, o aplicativo da HTC que avaliava o sistema e dizia se suportava o Vive ou não advertia que VR podia ser areia demais para a camioneta do meu CPU - curiosamente, no entanto, a versão mais actual reconhece que o meu CPU chega e sobra para VR. Convém, se calhar, dizer que a minha gráfica é uma GTX 1070, comprada na mesma semana em 2016 que o meu Vive (e na mesma rua, mas não na mesma casa).
E agora, a questão que adivinho estar mais fremente nas vossas mentes...
Suporte para a Bimby: não tem.
Numa apreciação final, por um lado, muito boa onda da HTC de se ter lembrado dos early adopters e não nos ter obrigado a comprar hardware redundante só para poder ter melhor imagem (sim, eu sei; depois de tudo o que estive para aqui a dizer, tal afirmação é quase criminosamente sobre-simplista, mas, no fundo, é essa a diferença mais significativa); por outro, fico com a impressão de que a HTC sub-valoriza o valor do hardware de que nos permite prescindir, e não posso, em boa consciência, dizer que este upgrade "vale todos os cêntimos que custa". Posto isto, não me arrependo da compra.
Direi mesmo mais: para quem está interessado em aventurar-se na terra do VR, mas estava reticente em comprar "a primeira porcaria que chegar ao mercado", tem agora um produto mais refinado, e o pacote completo, atrevo-me a dizer, vale todos os cêntimos que custa.
Pax vobiscum atque virtual.