A sonda Cassini, lançada em 1997 demorou 7 anos até chegar ao seu principal alvo, Saturno. A sonda não pesa mais de 350kg, mas possui mais de 1500 componentes e cerca de 14km em cablagem(!). É controlado por um aparentemente pouco impressionante processador de 16bit, mas trata-se de nem mais nem menos o mesmo equipamento visto em F-18s, e devido à obscuridade à volta do funcionamento do mesmo no meio civil é possível compreender o porquê desta escolha.
O custo do projecto foi algo como 3.5 mil milhões de dólares, algo como metade do que o governo de José Sócrates queria gastar no TGV, ou 1/3 do que vamos pagar de juros das PPP em 2013.
Adiante. O motivo deste post é mostrar o que a sonda Cassini está a fazer no espaço. O porquê de lançar uma máquina fotográfica cara para o espaço em vez de fazer uma auto-estrada de 3 faixas entre beja e alguidares-de-baixo.
Esta é uma tempestade que decorre no chamado "hexágono de Saturno". Uma formação estranha, em forma de hexágono perto do pólo norte de Saturno. Mas mais fascinante ainda, é Titã (ou Saturno VI).
Titã é uma lua de Saturno (cerca de 50% maior que a nossa Lua) e a quando do início da exploração espacial, tudo indicava ser uma lua completamente desinteressante, com uma atmosfera densa (como vénus). Surpresa total quando Cassini chega a Titã e detecta Lagos nos seus polos (onde a atmosfera é menos densa). Passagens sucessivas de Cassini revelam dados fascinantes de Titã:
Atmosfera de Nitrogénio e Metano (98% e 1.5% respectivamente) e temperaturas médias de -180ºC.
Autênticos mares fluidos de metano e etano (Metano liquidifica a partir de -160ºC, relembro que o metano é apontado como o combustível espacial do futuro, havendo desde 1990 misseis cujo combustível é metano líquido). Mas não só, passagens sucessivas de Cassini com medições radiométricas mostram que os mares e lagos de titã têm marés que os podem fazer oscilar até 10 metros!
Mais fascinante ainda é a presença anormalmente grande de Argon40 na atmosfera. O que é Argon40 oiço os leitores a perguntar. Argon40 é um isótopo de Argon que é formado apartir de Potássio40. O Potássio40, existente em rochas desde a formação dos planetas, tem um ciclo de meia-vida de 1.25 mil milhões de anos. Logo, medindo o potássio 40 e Argon40 de uma rocha, somos capazes de saber com alguma certeza a sua idade. O "problema" com o Argon40 é que já foi provado que, quando a rocha é formada por um processo vulcânico ela possui quantidades anormalmente grandes de Argon40 (que também expele para a atmosfera.
Em Titã, este Argon40, as baixas temperaturas, e composição da atmosfera sugerem vulcões...frios.
Certo, vulcões frios, que em vez de lava expelem água, amónia e metano líquidos, isto porque os modelos existentes de titã necessitam que o planeta tenha um manto líquido (muito como a terra), mas cuja composição será um mix de metano líquido e gelo! Alguém consegue imaginar tal vulcão?
Apenas na imaginação por enquanto. O que não é imaginação são os rios de Titã, porque Cassini tirou recentemente esta fantástica foto:
Um rio de metano líquido, com afluentes e tudo, a terminar num delta em tudo semelhante ao nosso rio Nilo. Esta imagem é um verdadeiro triunfo à ingenuidade humana. A composição e densidade da atmosfera de titã faz com que a sua superfície gelada esteja em noite permanente, uma noite sem estrelas e sem tréguas, mas mesmo assim esta sonda enviada em 1997 foi apetrechada o suficiente para dar provas do primeiro Rio extra-Terreste.
Cassini esta que deixou também um vislumbre (em cores "reais", ou seja, tal como visto pelo olho humano) da atmosfera de titã vista do espaço:
Já há mais missões preparadas para Titã, mas até lá (2030, 2040) temos de nos "contentar" com os vislumbres que Cassini nos vai enviando.