Algum dos meus estimados colegas e amigos algum dia dá por si a olhar para o relógio e a dizer "eh, pá, já é tão tarde! Por mim, ficava aqui mais um bocado..."? Ou algum de vós dá por si, durante o fim de semana, a "desfazar" do relógio, deitando-se mais tarde na Sexta que na Quinta, no Sábado que na Sexta e, no Domingo, encalhado com a escolha entre deitar-se ainda mais tarde e acordar estremunhado na Segunda ou deitar-se a uma hora razoável e ficar um bocado valente às voltas na cama, até adormecer tarde, acordando estremunhado na Segunda? Tendes a sensação de que o dia não tem horas que chege? Dormeis oito, às vezes mais, horas por noite e mesmo assim acordais com vontade de dormir mais?
Pois a mim acontencem-me as quatro.
Problema:
Alguns de nós têm ciclos circadianos mais longos que 24 horas. Viver dias mais curtos que o que deve ser, às vezes, é um castigo...
Solução:
Bem vistas as coisas, a duração de 24 horas não é uma fabricação artificial, criada pela humanidade. Já a duração de uma hora é outro caso, mas alterar a durção da hora não resolve nada, porque o Sol continua a nascer e a por-se à hora que quer. Portanto, a solução tem de começar por nos abstraírmos do Sol. Por outras palavras: bunker subterrâneo (os anões do Peres são capazes de poder ajudar com esta parte). Claro que aqui há uma data de potenciais problemas, sobretudo com gente claustrofóbica, mais a chatice de que, sem a luz solar, existe o perigo de falta de pro-vitamina D e subsequente raquitismo mais o risco de depressão, mas entendam que isto dos bunkers da nova ordem mundial não são os "vaults" do Fallout: os residentes podem entrar e sair como bem lhes apetecer (já os de fora têm que ser encarados com mais cuidado. Sair podem sempre, mas entrar, só acompanhados de um residente, que pode deixar um documento notariado que permite a entrada a uma ou mais pessoas, devidamente identificadas, tanto em pessoa como no papel, assumindo, desta forma, total responsabilidade pelos actos dos seus convidados em troca de salvo-conduto para estes últimos). Para além disso, há sempre lâmpadas solares.
Agora que nos abstraímos do Sol, já não temos nada que nos vincule às 24 horas do costume. Podemos agora estabelecer que o dia tem, em vez de 24 horas, 28 horas. Claro que isto cria outros problemas, nomeadamente, a nível do calendário. Mas vamos por partes...
A semana é uma convenção humana, provavelmente religiosa, já que, em muitas línguas, os dias da semana têm nomes oriundos nos de divindades (por exemplo, Thursday vem do nome do deus Thor, Vendredi vem do nome da deusa Vénus e Martes vem do nome do deus Marte. Já em português, Sábado vem de Sabbath, o dia que um dos mandamentos ordena que se observe e se mantanha santo). Também calha ser uma convenção útil, quanto mais não seja por causa dos fins de semana, e ainda mais caso esta "sociedade cronologicamente paralela" pretenda ter contacto com a civilização que já temos. Em todo o caso, não vejo inconveniente em se manter o padrão de que um trabalhador deve 40 horas de trabalho por semana. Ora a semana conforme a conhecemos consiste de 7 dias de 24 horas. Em cada um de 5 dias úteis, o trabalhador trabalha (pois, que senão seria um descansador) 8 horas.
Fazendo as contas:
7 x 24 = 168 horas por semana.
8 x 5 = 40 horas de trabalho por semana.
24 - 8 = 16 horas de lazer/assuntos pessoais/etc por dia útil.
16 x 5 = 80 horas de lazer/assuntos pessoais/etc por semana
2 x 24 = 48 horas de fim de semana por semana.
Tomemos agora os dias como períodos de 28 horas. As semanas passam a consistir em 4 dias úteis e 2 dias de fim de semana. Todos os dias úties, o trabalhador deve 10 horas de trabalho.
Fazendo as novas contas:
6 x 28 = 168 horas por semana (consistente com as antigas semanas).
10 x 4 = 40 horas de trabalho por semana (nada se perde).
28 - 10 = 18 horas de lazer/assuntos pessoais/etc por dia útil (+2 que no antigo regime).
18 x 4 = 72 horas de lazer/assuntos pessoais/etc por semana (-2 que no antigo regime).
2 x 28 = 56 horas de fim de semana por semana (+8 que no antigo regime!).
Quanto a vós, não sei, mas a mim parece uma proposta apelativa.
Os meses conforme os conhecemos são completamente arbitrários. Uns têm 30 dias, outros 31 e um deles costuma ter 28, mas, às duas por três, tem 29. Proponho que mandemos lixar estes meses e façamos meses novos. A bem da homogenização, proponho que os meses sejam tão uniformes quanto possível.
Antes de começar a fazer contas nesse sentido, convém lembrar a questão dos anos bissextos. Contemos já com eles, para evitar refazer as contas mais tarde.
Posto isto, um ano conforme o conhecemos, consiste em 365 dias de 24 horas mais 6 horas que, a cada 4 anos, fazem um 29 de Fevereiro (palavra que vem do Latim "februare", que significa "queimar" ou "purificar pelo fogo", na medida em que, em Fevereiro, se limpava a alma das desgraças do ano anterior. Já Janeiro vem do nome do deus Janus, que, com duas caras, olhava simultaneamente o passado e o futuro, cimentando o argumento de que os meses são uma convenção humana, provavelmente de origem religiosa). Ou seja:
365 x 24 + 6 = 8,766 horas por ano.
Mas eis que os dias agora são maiores!
8,766 / 28 = 313.071(42857) dias (de 28 horas) por ano, ou seja, mais ou menos 313 dias.
A sermos rigorosos, o que resta dos 313 dias pode ser acumulado numa versão "Nova Ordem" dos anos bissextos. Assim sendo:
1 / 0 .07(142857) = 14 anos entre anos bissextos.
Agora, quanto aos meses. Assumamos, portanto, que os anos têm 313 dias. Mantenhamos, aparentemente por sentimentalismo idiota, a noção de 12 meses por ano.
313 / 12 = 26.08(3) dias por mês.
Este número é parvo, mas arredondemos:
26 x 12 = 312 dias por ano.
É inconsistente, mas, com um pouco de sacrifício, um dos meses pode ter mais um dia (em prol da simplicidade, proponho que seja ou o primeiro ou o último. Inclino-me mais para o último). Então:
26 x 11 + 27 x 1 = 313 dias por ano.
E não se esqueçam que, a cada 14 anos, há que contabilizar mais um dia. Mais uma vez, proponho que seja acrescentado ao último mês, caso seja o primeiro a ter 27 dias, ou o primeiro, caso seja o último a ter 27 dias.
Em termos de horas, no antigo calendário:
28 x 24 = 672 horas por Fevereiro (ano comum).
29 x 24 = 696 horas por Fevereiro (ano bissexto).
30 x 24 = 720 semanas por Abril/Junho/Setembro/Novembro.
31 x 24 = 744 semanas por Janeiro/Março/Maio/Julho/Agosto/Outubro/Dezembro.
Já no novo:
26 x 28 = 728 semanas por cada um de 11 meses (ano comum).
27 x 28 = 756 semanas por 1 mês (primeiro ou último) (ano comum).
26 x 28 = 728
semanas por cada um de 10 meses (ano bissexto).
27 x 28 = 756 semanas por primeiro e último meses (ano bissexto).
Os números parecem-me semelhantes quanto baste para que a transição não seja um descalabro.
Faço ainda notar:
28 / 7 = 4 semanas por Fevereiro (ano comum).
29 / 7 = 4.(142857) semanas por Fevereiro (ano bissexto).
30 / 7 = 4.(285714) semanas por Abril/Junho/Setembro/Novembro.
31 / 7 = 4.(428571) semanas por Janeiro/Março/Maio/Julho/Agosto/Outubro/Dezembro.
365 / 7 = 52.(142857) semanas por ano comum.
366 / 7 = 52.(285714) semanas por ano bissexto.
Ou seja, mais ou menos 4 semanas por mês e 52 semanas por ano. Na nova ordem:
26 / 6 = 4.(3) semanas por cada um de 11 meses (ano comum).
27 / 6 = 4.5 semanas por 1 mês (primeiro ou último) (ano comum).
26 / 6 = 4.(3) semanas por cada um de 10 meses (ano bissexto).
27 / 6 = 4.5 semanas por primeiro e último meses (ano bissexto).
313 / 6 = 52.1(6) semanas por ano comum.
314 / 6 = 52.(3) semanas por ano bissexto.
Ou seja, as mesmas mais ou menos 4 semanas por mês e 52 semanas por ano.
Quer isto dizer que todas as intituições que tomamos por certas na nossa sociedade e que dependem de meses ou semanas por ano ou semanas por mês (ordenados, rendas, prestções, assinaturas) podem permanecer intactas.
Pensem nisto; pode ser que um dia, quando formos todos ricos e famosos, possamos vir a ver uma coisa destas a funcionar. E se derem conta de um erro meu ou de qualquer coisa com que não contei, apontem o dedo, chamem-me à atenção e proponham uma solução.
Vamos criar uma Nova Ordem Mundial (mais ou menos)!
Pax vobiscum atque vale.
8 comments:
So ha 1 problema, eu gosto de dormir quando ta escuro la fora pelo que prefiro o sistema de 24 horas.
A minha "solucao" tem sido por o sono em dia ao fim de semana, onde em vez de dormir as tipicas 8 horas, durmo umas 10 ou 12.
De acordo, Sintra, eu também. Aliás, aqui em Londres, as persianas a que Portugal me habituou não estão muito em voga, e mesmo tapando metade da janela do meu quarto com cartão e fita adesiva, assim que começa a clarear (e aqui, no verão, é bem cedo), as cortinas já não servem de nada para impedir uma claridade que já não me deixa dormir em condições.
É por isso que proponho a ideia do bunker. Devia ter-me explicado melhor. A ideia é que possamos, num ambiente completamente subterrâneo, designar áreas de interior e pseudo-exterior. No pseudo-exterior, haveria lâmpadas solares, ventilação, controlo de humidade e temperatura e mais o que quiseres para simular o exterior. Aqui há a possibilidade de simular um ciclo solar de duração variável. Podes até ter zonas adjacentes em diferentes estágios do ciclo solar (i.e., horas do dia) ou mesmo ciclos solares de duração diferente. Podes mesmo ter a tua vivenda no meio de uma zona onde tu controlas quando é exactamente que hora do dia quando queres e que tempo está.
Chegaste apenas 6000 anos atrasado.
Isto está bem documentado, e é o seguinte:
24 não é ao acaso. Embora os egípcios usassem semanas de 10 dias dividiram o dia em 24 períodos e não 28 ou 10 por vários motivos:
1) Os egípcios adoravam contar em base 12. Isto porque, usando o polegar, e tendo em conta que cada dedo tem 3 articulações, era comum contarem "12" em cada mão (ao contrário de nós, meros mortais, que contamos até 5 em cada mão)
2)Nos equinócios, conseguiam dividir o período de dia e noite em 10 horas cada um, e 2 horas para cada período de sol a pôr\nascer.
3) 12 é fácil de dividir. 12 divide em períodos de 2,3,4 e 6. 10 divide em período de 5. E os teus 28 (14) apenas em 2 e 7. Logo, qualquer divisão de tarefas é muito mais simples num sistema de base 12.
Com isto posso concluir que Anões, como os de tábuas ricas, usam claramente dias de 24 horas, mesmo tendo escuridão eterna à sua volta.
Aceito o teu argumento, Peres.
Alterando ligeiramente a minha proposta inicial, se se estabelecer que cada segundo da nova ordem mundial dura 1 1/6 de segundo da velha ordem, então teremos dias de 24 horas da nova ordem com a duração de 28 horas da velha ordem cada um. Bastando que façamos os relógios que já temos andar mais devagar.
Fantástico. Agora há apenas que ignorar por completo essa coisa do dia\noite.
E se deixássemos as medições de tempo como estão, e mudássemos as políticas de trabalho? Trabalhar por projectos e cada um poder escolher um horário de trabalho em 'horário fixo' e um 'horário flexível' assim cada um decide quando dorme, e quando faz a 'outra metade' do trabalho. E o que aconteceu à 'liberdade' que as máquinas nos iriam dar, para não termos que trabalhar tanto? Felizes os países em que se vê o trabalho como um dever/direito social e não uma obrigação.
E como arranjavas clientes para esse teu negócio muito liberal?
Dizias ao cliente que o trabalho estava pronto quando os teus trabalhadores quisessem trabalhar? E que tal empresas de serviços? Um clínica de ortopedia que está aberta das 9 às 10, depois das 12:34 às 15:21, e depois das 2:30 da manhá às 7:00?
Os horários não foram feitos para tornar a vida miserável ao trabalhador, mas sim para haver ordem. Serviços das X às Y horas. Projectos planeados tendo em conta X horas de trabalho por pessoa por dia.
Oh Telmo, infelizmente, qualquer management ve o trabalho ah frente do computador como nao trabalho.
Tenho dias em que nao tenho absolutamente nada para fazer. Hoje foi um deles.
Por outro lado, se das demasiada liberdade, o pessoal abandalha e nao faz nada.
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