Recentemente (entenda-se, de 2005 para cá), uma famosíssima personagem de ficção, de quem quase ninguém falava desde 1997, e não sem uma certa dose de razão, voltou à ribalta: falo, naturalmente, do Batman.
Não é que eu seja um perito em banda desenhada, e ainda menos em banda desenhada que já tinha para cima de 40anos quando eu tive a infeliz ideia de nascer, mas todos conhecemos o Batman bem que baste para discutir os sobretons (não sei se existe a palavra. Tentei traduzir "overtones") dominantes da personagem. Sabeis do que eu falo: um vigilante que se leva demasiado a sério, apesar de se vestir de morcego, e que aposta numa imagem aterradora. O resto do ambiente no qual o Batman se insere não é mais alegre: Gotham é uma cidade delapidada, consumida pelo crime e pela corrupção. Se não fosse o panteão de vilões, que inclui indivíduos concebidos durante uma greve de seriedade (vide Joker, Penguin e Riddler, entre outros), as aventuras do Batman tinham menos lugar numa banda desenhada e mais no repertório do Roman Polanski (num dia em que ele estivesse virado para o drama deprimente à la "Ghost Writer", ao invés de "Por Favor, Não Me Morda no Pescoço"). No entanto, o ricaço que sai à noite com metade da cara à mostra e dúzias de Bat-coisas nas bolsas do cinto polula revistas, desenhos animados e filmes para, às vezes maiores de 13.
Sabíeis que, quando se começaram a fazer filmes do Batman, em 1989, a cidade de Gotham foi feita a misturar diferentes estilos de arquitectura de maneira a tornar a cidade feia de propósito? Trago isto à baila porque, em comparação com o Batman bem disposto de certas bandas desenhadas das décadas de 40 e 50 - e, não esquecer, da série de televisão de 1966 com o Sr. Adam West, mais tarde Presidente da Câmara de Quahog - foi esse filme que retomou e reestabeleceu o Batman deprimente, quase cruel que hoje toda a gente reconhece.
Agora vou falar de mim, porque sou eu que estou a escrever (e porque os meus estimados colegas e amigos deixaram passar o meu aniversário sem sequer um "parabéns, pá!" por e-mail. Deixem lá; há sempre para o ano). Eu não gosto particularmente do Batman. Não tenho nada contra ele, não há nada no conceito ou na execução que me repudie - a não ser a meia máscara; é muito mais assustador não se saber rigorosamente nada acerca do homem debaixo da capa que saber que é branco, tem dentes certinhos, não usa barba, tem hálito a hortelã-pimenta e mais a miríade de coisas que se podem discernir acerca do Bruce Wayne só a olhar para o Batman. Mas a pergunta interessante é "porquê"? Eu lembro-me perfeitamente dos desenhos animados do Batman na década de 90, do "Batman Returns" de 1992 (o "Batman Forever" é um bocadinho parvo, e do "Batman & Robin" não tenho mais nada a dizer) e de longas metragens de animação do Batman, mais uma vez, da década de 90, como "The Mask of the Phantasm" de 1993 - que, ainda hoje, acho impecável - ou "Mytstery of the Batwoman", já para não falar dos novos "Batmans" (Batmen?) com o Christian Bale, e há uma coisa que me apraz dizer: adoro a estética do universo Batman. Adoro a ideia de um vigilante que não se ensaia nada a dar aos criminosos razão para fugirem a correr, cheios de medo. Até gosto do facto de o indivíduo andar sempre todo de preto - a parte do tema dominante dos morcegos não me aquece nem me arrefece. Podia dar-lhe para pior. Imaginem que, ao invés de morcegos, o homem tinha uma pancada por sardinhas enlatadas. Posto isso, andar mascarado de morcego até parece razoável. Então por que é que eu não sou maluco pelo Batman?
Antes de continuar, tenho que interludiar uma triologia de albuns de banda desenhada do Batman, cujo título ao certo me escapa, mas que, resumidamente, começa por opor o Batman ao Conde Drácula, passa por transformar o próprio Batman num vampiro - digam lá que não se estava mesmo a ver - e acaba com toda a gente a fazer tijolo. Este bocadinho de Batman é absolutamente brilhate em rigorosamente todos os níveis e recomendo vivamente a toda a gente, incluindo criancinhas que possam ficar quinze dias sem dormir e quinze décadas com medo do escuro e de morcegos.
Voltando ao milionário playboy que divide o seu tempo entre super-heróis e super-vilões, apesar de não ter mais super-poderes que rios de dinheiro e umas engenhocas catitas que ele mesmo - ou a companhia com o nome dele - constrói: o Iron Man é o meu herói favorito. Os de vós que costumam ler o Cracked.com talvez tenham lido este artigo, que justifica a minha opinião.
Mais uma tangente agora, desta vez no mundo dos videojogos: lembrais-vos de um jogo (bastante mau) chamado MK vs DCU (Mortal Konbat versus Detective Comics Universe, para quem não é lá muito versado em abreviaturas)? A premissa deste jogo era que, "ao mesmo tempo" (é ridículo falar de "mesmo tempo" no que toca a universos distintos, já que cada universo tem o seu próprio tempo... provavelmente) que o Raiden atacava
com um relâmpago
o Shao Kahn, que se preparava para fugir através de um portal interdimensional, o Super Homem atacava com um raio dos olhos o Darkseid, que se preparava para fugir através de um portal criado por um daqueles dispositivos que os senhores da Aperture Science Laboratories constroem - não, espera lá; afinal também era um portal interdimensional. Sucede que os ataques dos heróis desestabilizam os portais dos vilões, que, como é obvio, se fundem num só (tanto os portais como os vilões), e agora que temos desculpa para o Super Homem e o Batman andarem ao estalo com o Sub-Zero e o Scorpion, temos jogo.
Estabelecida esta premissa, e se, numa fusão semelhante o Batman e o Iron Man se juntassem?
Aparentemente, não sou o primeiro a pensar nisso.
Pax vobiscum atque vale.
3 comments:
Vários pontos na minha resposta:
Fui, na minha juventude, leitor assíduo de banda desenhada, quando ia ao quiosque da esquina comprar a revista de 15 em 15 dias por 150 escudos. Dava preferência a Wolverine, depois X-men, e por fim Batman. Por outro lado, sempre achei Super-homem\homem aranha\cap. américa demasiados "americanos", meninos penteados com mania de poses para a foto e cujo problema central era a Lois Lane\Mary Jane\estado do fato.
Li, ainda antes de ter internet ou saber o que é um spoiler, a "morte" do batman, quando o Bane lhe parte a coluna, a quase morte"do Wolverine, quando o magneto lhe "arranca" o metal dos ossos, etc etc
Logo, reconheço a estas personagens um lado muito mais trágico e heróico do que, por exemplo, a um homem de lata (ops, ferro certo?). São personagens completamente diferentes em filosofia e apresentação.
Por fim, quero deixar-te a arte do substitudo do batman depois de bruce wayne ter tido a espinha partida:
http://images.wikia.com/newsecretwars/images/9/98/Batman_Azrael_454678.jpg
http://images.wikia.com/batman/images/4/41/Azrael-batman_01.jpg
O meu herói preferido é sem sombra de dúvidas o Deadpool.
Para um herói optimista cujo cérebro lhe falha constantemente e que tem um azar com o sexo oposto, está sempre a colocar-se em situações caricatas sem a mínima ponta de vergonha.
E para além disso temos também coisas como isto e isto.
O Deadpool é brilhante, mas na categoria dos "não me levo minimamente a sério". O jeito dele de partir a quarta barreira é genial. Isso e fazer referências a outras personagens do universo Marvel, em frases como "my common sense is tingling" (que tem implicações interessantes) ou, retirada do jogo "Marvel Ultimate Alliance 2", "who's funnier? Spidey or me?".
Alguma vez jogaste "Marvel vs. Capcom 3"? Ele figura na lista dos participantes. Tem momentos brilhantes como as provocações ("Taunt button!" ou "This is my taunt! Hehe!") e o super-invencível-nível-três-parte-tudo-combo-especial em que espanca o adversário com os elementos do HUD (barra de energia, etc.)
Mas não é um herói, digamos, sério, nos trâmites clássicos de um protagonista de banda desenhada.
Fica a citação de um demotivational poster : "Deadpool: /b/ in superhero form"
Chimichanga!
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